¬ Os investimentos e a linguagem do mercado financeiro



Os bancos são grandes atravessadores. Negociam uma mercadoria chamada dinheiro. Buscam esse dinheiro com quem não o utiliza para emprestar àqueles que necessitam para consumo (famílias), ou investimentos e capital de giro (empresas). Esses recursos podem ser adquiridos pelos bancos via poupança e CDB's, por exemplo. Ou seja, nós emprestamos dinheiro aos bancos e eles nos pagam juros, que são cobrados de seus clientes na ponta (empresas e outras famílias). Nos casos citados, CDB e poupança, o banco compra o meu dinheiro, já que se compromete a pagar um juro por eles, e o repassa na ponta para quem achar mais lucrativo. Eu, como poupador, não sei pra onde vai o dinheiro e, na verdade, nem estou tão preocupado já que garanti o meu rendimento no ato da aplicação. Isso coloca o banco na condição de atravessador.

Mas, a atuação dos bancos não se restringe a essas 2 operações. Quando o assunto é dinheiro trabalham em áreas bem diversas. Além da poupança e dos CDB's podem, por exemplo, pegar nosso dinheiro para aplicar em dólar (fundos cambiais), em ações na Bovespa (fundo de renda variável ou fundo de ações), em imóveis (fundos imobiliários), ou ainda emprestar nosso dinheiro para o governo (fundos de renda fixa e fundos DI) – veja no final do artigo um glossário. Isto é, as possibilidades são diversas, e cada investimento que ele faz com nosso dinheiro dá um nome específico a um tipo de fundo de investimento, facilitando a identificação de onde a “grana” está sendo aplicada.

Notem que, neste último caso (fundos de investimento), o banco atua não como um atravessador, pois não compra meu dinheiro. É um intermediário, pois me conduz diretamente ao outro interessado, cobrando uma taxa por isso, a taxa de administração ou corretagem. Em alguns casos, como no fundo de ações, cobra também uma taxa de performance, ou seja, se o ganho com as ações for razoável ele me exige, além da taxa de administração, um adicional, uma performance pelo bom gerenciamento do meu dinheiro.

Comparemos um feirante a um banqueiro e, assim, nos coloquemos no ponto de vista de um vendedor de laranjas ou de dinheiro (investidor). Ao comprar minhas laranjas (dinheiro) e revendê-las para clientes diversos ele atua como atravessador, pois comprou-as de mim por um preço (juro) e escolhe pra quem vender, quando vender e a que preço vender, já que dependendo do cliente o risco pode ser maior ou menor pra ele (cheque especial, capital de giro, cartão de crédito, leasing, empréstimos consignados etc). Portanto, se tudo der errado,  o prejuízo é dele, pois eu tenho garantido o meu rendimento, já que 'recebi' um valor pelas laranjas.

Agora pensem na seguinte situação. Eu tenho laranjas (dinheiro) e peço ao feirante que me coloque em contato com um restaurante específico, pois quero direcionar minha venda de laranjas pra ele. O feirante (banco) pode me cobrar uma taxa por fazer essa ligação, atuando nesse caso não como atravessador, mas como um intermediário. Surgem aqui os fundos de investimento. Neste caso, como eu escolhi para quem vender minhas laranjas (meu dinheiro), se minha negociação der errado, ou se o preço ficar aquém do que imaginava, o prejuízo é meu e o banco não me devolverá a taxa de administração.

De forma mais resumida ainda. Quero vender o meu carro e tenho duas opções: 1) ou o vendo pra uma agência de veículos que me paga um valor por ele (atravessador) - se ela não conseguir vendê-lo depois é problema dela pois já estou com o dinheiro na mão; 2) ou aviso a mesma agência que tenho um carro pra vender e que ela me arrume o cliente. Ela pode aceitar esse acordo e me cobrar um percentual pra fazer isso (intermediário). Neste caso, quando ela me indicar um cliente ganha o seu percentual, mas se o cheque do comprador do carro voltar o problema, prejuízo, é meu. A corretagem não será devolvida pela agência.

Portanto, depósitos na poupança, CDB, LCI (letras de crédito imobiliário), LCA (letra de crédito agrário) e títulos de capitalização tornam o banco um atravessador. Depósitos em fundos de investimento fazem dele um intermediário. Por isso, em fundos de investimento eu compro uma cota, um pedaço do fundo (que nada mais é que um pedaço da Petrobras, um título do governo etc). O banco não tem obrigação alguma de me dar algum rendimento. Recebe sua taxa de administração e só. Dali pra frente todo o risco é meu, e o meu lucro dependerá do comportamento do ativo que comprei, podendo me levar, inclusive, ao prejuízo.

Então, olhando para a captação que os bancos fazem via CDB vemos que o princípio é o mesmo da poupança. Pagam, por exemplo, 0,9% ao mês no CDB e emprestam esse dinheiro às famílias e empresas a 3%. Essa diferença (2,1%) é o spread bancário. Portando, esse termo é usado para mostrar a diferença entre o que o banco paga ao captar recursos (poupança, CDB's etc) e o valor que ele cobra.

Acontece que essas aplicações tem um jargão próprio. Ao negociar um CDB, LCI ou LCA recebemos um percentual que é uma parte do CDI (certificado de depósito interbancário). Esse CDI, também chamado de DI, nada mais é que os juros que os bancos cobram uns dos outros para fazerem empréstimos entre si.




Assim, se emprestamos dinheiro ao banco ele nos paga um percentual da taxa de juros que eles negociaram com outros bancos ao longo do dia, o tal do CDI. Logo, se o CDI ficou em 10%, o Santander me paga um percentual disso quando empresto o meu dinheiro. Se o Itaú tivesse emprestado pra ele receberia os 10% de juros no ano. Todavia, eu recebo apenas uma parte disso, por exemplo, 80%. Assim, o meu rendimento será de 80% do CDI, isto é, 8% no ano. Assim, em linhas gerais, muitos dos rendimentos que fazemos enquanto aplicadores se comportam como no desenho abaixo:


O único 'investimento' com rentabilidade determinada pelo governo é a poupança. Todos os outros dependem das negociações que fizermos com os bancos enquanto atravessadores. Assim, a remuneração da caderneta é definida por lei em 0,5% no mês (6% ao ano) + a tal da TR, uma espécie de índice de inflação. Há, ainda, outra determinação do governo com relação aos depósitos na poupança. Os bancos devem, obrigatoriamente, emprestar 65% dos recursos depositados na caderneta para o financiamento da habitação e obras de saneamento. Ou seja, acaba sendo uma menor parte direcionada para empréstimos às famílias (consumo) e aos empresários (produção). Imaginem, então, se o rendimento da poupança fica melhor que os outros. Neste caso todos migram pra poupança e como, por lei, 65% já tem destinação específica, automaticamente teríamos uma sobra absurda de recursos para esse setor e pouco pras outras áreas da economia, como consumo e investimentos - por isso a discussão, não muito bem vinda,  em 2009 (governo Lula) em torno da taxação da poupança. O objetivo era diminuir sua atratividade para que os investidores aplicassem em outros lugares (fundos DI, CDB's, ações etc etc).

A criação dos CDB's pelos bancos visou exatamente isso, "fugir" dessa obrigatoriedade de aplicação no setor imobiliário/saneamento. O dinheiro do CDB pode ser aplicado onde o banco quiser; mas, não se arriscará muito com ele por já ter se comprometido em pagar um valor fixo ao depositante.

** Uma segurança maior é dada pelo FGC para poupança e CDB's, uma espécie de garantia de que, se tudo der errado, podemos sacar até 250 mil, por CPF e por instituição.

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Seguem alguns investimentos, suas principais características, rentabilidade e impostos a serem pagos:

Fundos cambiais: fundos que captam recursos dos investidores para aplicar em dólar. Compro um pedaço, cota, do fundo. Se o dólar subir eu ganho (subir o valor da cota), se cair eu perco. O banco não me garante nada. 

Fundos DI (Depósito interbancário): utilizam o dinheiro dos depositantes para comprar títulos do governo. Como regra, devem aplicar 95% do dinheiro em títulos públicos, pós-fixados na selic, ou seja, o ganho efetivo só se sabe no resgate, mas tende a acompanhar a selic. Os bancos que vendem estes fundos podem usar os outros 5% para comprar títulos de empresas (debêntures), CDB's de outros bancos etc. Porém, a maior parte dos recursos vai mesmo pro governo. Lembrando que a expressão genérica renda fixa significa fundos que apliquem tanto em títulos pré (fundos renda fixa) quanto aqueles que aplicam em títulos pós (fundos DI). Ou seja, o raciocínio não é tão simples, Mas, ao aplicar em renda fixa posso não garantir que a taxa, e a renda, seja efetivamente fixa. Teria que investir em um fundo renda fixa e não em um fundo DI. Ambos tem risco baixo. Porém, note que fundos de renda fixa podem ter elevado risco uma vez que aplicam em títulos que, apesar da taxa de retorno fixa, sejam arriscados. Nesse caso é o risco de crédito, ou seja, do vendedor do título não honrar o pagamento. Já no fundo DI, apesar de a rentabilidade não ser pré-fixada, está atrelada à taxa selic, o que o torna menos arriscado já que é o governo quem paga a selic. A própria Anbima faz uma distinção entre os diversos fundos DI e renda fixa, ou seja, onde eles devem investir o nosso dinheiro.

Fundos imobiliários: utilizam os recursos para aplicação em novos imóveis.

Poupança: depósito com remuneração definida pelo governo (6% ao ano, ou 6%/12 = 0,5% ao mês + TR). É a única modalidade de investimento isenta de IR (Imposto de Renda), junto com as LCI's (Letras de crédito imobiliário). Para todas as outras existe tributação de IR específica. Notem que as regras da poupança mudaram em maio de 2012. A partir desta data, os novos depósitos terão como remuneração os 0,5% am (6% no ano) caso a taxa selic fique acima de 8,5% aa. Quando a selic ficar abaixo desses 8,5% os depósitos na poupança renderão 70% da taxa selic, e não mais os 6% no ano. Com isso o governo evita que a poupança capte muitos investidores caso a selic caia bastante e torne os fundos DI/renda fixa pouco atrativos. Se a selic voltar a subir e ficar acima dos 8,5% volta a regra antiga.

 Você acha que a poupança é, realmente, um péssimo investimento? Então precisa ler isso. Veja também o artigo sobre a nova regra da poupança.

LCI's e LCA's: um bom 'substituto' da poupança é a LCI (letra de crédito imobiliário), mais comuns, ou LCA (Letra de crédito agrário). São aplicações também sem IR e taxa de administração. O banco utiliza esse dinheiro para créditos no setor imobiliário ou agrário. No entanto, a aplicação mínima pode partir de 30.000 e o dinheiro fica parado 1 ou 2 anos, dependendo do banco. É remunerada, assim como o CDB, como um percentual do CDI. Esse percentual tem oscilado entre 80% e 84% (Caixa Econômica), podendo ser maior se a quantia aplicada for superior a 120 mil. 

Títulos de capitalização: são depósitos feitos nos bancos com saque após 1 ano, em média. A remuneração dessa aplicação é a TR, sendo o valor aplicado devolvido no final do período e acrescido dessa atualização monetária (TR). A grande diferença do título de capitalização com relação à poupança é que ele não rende mensalmente e o saque só pode ser feito no final do período - quem sacar antes pode inclusive receber um % de multa. Além disso, enquanto a poupança paga 6% ao ano + TR, aqui o investidor recebe só a TR, ou seja, não recebe quase nada. Além disso, os títulos de capitalização dão direito a concorrer a prêmios: carros, geladeiras etc etc. Um engodo pra atrair as classes mais baixas, maior mercado pra esse produto, comprando assim, a custo baixo, o dinheiro por elas disponibilizado. O marketing dos bancos pra esse péssimo investimento é que o comprador do título de capitalização receberá um valor superior ao valor inicial investido, já que será reajustado pela TR (se ganhou, quando muito, 1% no ano de TR e o IPCA deu 5% já levou uma 'pancada' de 4%). Aliado a isso, dizem os banqueiros, os juros são distribuídos na forma de prêmios nos sorteios. 
 
Veja o artigo sobre os títulos de capitalização.

Afinal, qual dos investimentos acima é melhor? Essa resposta depende de 2 coisas: a) do risco que se quer correr; b) do quanto de matemática básica, e juro composto, você entende. Alguns, como os títulos de capitalização, já descartamos de cara. E, se você quer menos risco porque está preparando a aposentadoria, desaconselho bolsa de valores. Restam, portanto, títulos do governo e outros investimentos privados e seguros, como LCI, LCA, CDB; e a poupança para pequenos valores ou em momentos de selic muito baixa. A  partir daí não tem jeito, é olhar no site do tesouro direto os títulos disponíveis, as taxas que eles pagam (IR e tx. de administração), e comparar com LCI, LCA (isentas) e CDB. A comparação deve ser feita pensando sempre no mesmo prazo de vencimento, de preferência depois do terceiro ano porque a alíquota de IR é menor. Veja a seguir um pouco sobre IR em aplicações financeiras.

OBSERVAÇÃO: todo o rendimento das aplicações que falamos acima é um rendimento nominal, para sabermos do ganho real, que é o que efetivamente interessa, temos que retirar a inflação anual.

Mas ........ e os títulos públicos?? Não são os melhores investimentos atualmente?? Por que não falei deles? Selecionei 2 tipos de títulos, os com melhor rentabilidade (vencimento em 2019) para analisarmos a rentabilidade.

- Tesouro IPCA + 2019 (NTNB  princ): venc. em 2019 com juro pago de 6,10% ao ano + IPCA anual
- Tesouro pré-fixado 2019 (LTN): venc. em 2019 e juro de 12,73%

Vamos às contas:
- Tesouro IPCA: 6,1% mais inflação, projetada, em torno de 7,5% = 13,6% - 15% (IR) = 11,56% aa.
- Tesouro pré: 12,73% -15% (IR) = 10,45% aa.
Nas contas acima considerei não haver taxa de adm. pois no próprio site do tesouro vc encontra algumas corretoras que dão isenção.
Comparando agora: fiz neste ano (2016) uma LCI no Bradesco que me pagou 80% do CDI, ou seja, 11,3% aa (80% de 14,13%). Lembrando que nas LCI não há imposto de renda - a Caixa me ofereceu, para o mesmo período, 82% do CDI.  

Conclusão: por que eu trocaria um investimento com rendimento igual ao do tesouro direto se não preciso travar o dinheiro por 3 anos (lembrem que só nesse caso a redução do IR cai a 15%, se resgatar antes disso a rentabilidade piora muito)? No final de 1 ano de aplicação posso escolher outro investimento. Além disso, não esqueçam que LCI e CDB tem garantia do FGC, títulos públicos não!



TRIBUTAÇÃO E FGC

TRIBUTAÇÃO (IR, IOF e tx de admin.): Há uma tabela regressiva de IR, ou seja, quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado menos se paga pro governo. Isso tem o objetivo de estimular os investidores a deixar os recursos fiquem parados no banco um bom tempo:

até 6 meses = 22,5% de IR sobre o rendimento;
6 meses a 1 ano = 20%;
1 a 2 anos = 17,5%;
acima de 2 anos = 15%.

Além do IR ainda há o IOF, caso o dinheiro seja retirado antes de 30 dias, o que também segue uma tabela regressiva. Por exemplo, se sacar o dinheiro 2 dias após a aplicação paga 96% de IOF sobre o rendimento. A partir do 30º dia não há mais IOF. Além disso ainda temos as tais 'taxas de administração'. Nesse ponto vale lembrar que no caso dos CDB's, assim como na poupança, LCI e título de capitalização, ela não existe. Isso ocorre apenas nos fundos de investimento.  

FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITO (FGC): fundo que garante aos depositantes, conta corrente, poupança e cdb's até 70 mil reais caso o banco quebre. A devolução desse dinheiro não é por conta, mas por cpf. Assim, duas contas no mesmo banco com 250 mil cada, com o mesmo cpf, só dão direito ao recebimento de 1 delas. Já uma conta conjunta, por ter 2 cpfs, dá direito a R$250.000 de saque, 125 mil por cpf. Caso tenha dinheiro em 2 bancos, 250 mil em cada, saca o limite máximo nos dois, ou seja, 500 mil.

Veja as regras no site do FGC

¬ Manual prático do "vagabundo" - em 10 lições


Penso que antes de qualquer dica de investimento vale a pena definir o objetivo de cada um com relação à conquista desse 'objeto' tão desejado no capitalismo: o dinheiro. Ele nos serve tanto de meio de troca, em nossas compras diárias, quanto reserva  de valor, como ressaltado por Keynes; isto é, dinheiro que guardamos para compras futuras - que, em linhas gerais, chamamos de poupança. Nesse sentido, acho que minha experiência própria serve de referência.

Utilizo o meu caso pois muitos pensam que sou rico apenas por entender de economia, de bolsa, um pouco de investimentos diversos, etc; ou simplesmente por me verem à toa mesmo. Dizer que ainda não cheguei no meu primeiro milhão não seria surpresa alguma, mas afirmar que não estou nem aí pra isso talvez cause espanto. E isso pra mim tem uma explicação lógica, que é o conceito de riqueza. Se a ideia de ser rico é associada aos milhões que se tem na conta bancária definitivamente eu jamais serei um, porque efetivamente não estou preocupado com isso. Acho que ser rico é saber viver e administrar bem a vida e o patrimônio que se tem, mesmo que seja pouco. Indo além, riqueza pra mim é liberdade, ou seja, não significa necessariamente quanto acumulei em patrimônio, mas o quanto consigo comprar de liberdade com ele. Digo comprar porque o trabalho pra mim é uma relativa prisão. Acho que pra maioria também, pois se pudéssemos trabalharíamos apenas três dias na semana e folgaríamos o resto. E é exatamente isso que faço, hoje (2013). Cheguei ao ponto de comprar 2 ou 3 dias de folga na semana, no meio da semana.

Convenhamos, eu também sou louco por uma Ferrari, uma Lamborghini, ou só por um "simplório" Porsche - tenho até uma desculpa boa pra não comprar um dos três, nenhum deles sobe rampa de voo. Mas aí paro pra pensar o quanto teria que trabalhar pra ter um brinquedo desses (não quero nem lembrar do IPVA e do seguro), ou pra ter uma casa com 10 suítes, um barco de 30 pés etc. E só de pensar nisso já fico cansado. Confesso que muito patrimônio dá trabalho demais, e sou muito preguiçoso pra cuidar desse monte de coisa, dos marinheiros, das governantas, dos jardineiros, dos vigias etc etc. Eu gosto do ócio, e trabalhei a minha vida toda, confesso que nem foi toda, pra comprá-lo. E consegui - sem herança ou patrimônio algum deixado pelos meus genitores.

Mas um dia serei milionário, não por vontade, mas por necessidade. Como já falei no artigo “brincando de tio patinhas”, quando colocamos a inflação, 1 milhão hoje pode não ser nada daqui a uns anos, já que a inflação comeu boa parte disso. Logo, eu preciso ser um milionário apenas para manter o meu poder de compra atual lá na frente.

Portanto, compre o seu ócio, seu sossego, seja feliz com o que tem e cuide com carinho dessa sua pequena poupança, pois já vi gente que tem muito perder tudo por não saber se regrar. E estou falando obviamente daqueles que realmente veem o trabalho como uma relativa prisão, porque se você sonha em ser o Abílio Diniz, ou gosta de trabalhar o dia todo por sentir prazer nisso, este artigo não te serve em nada. Nesse caso vai me achar mesmo um vagabundo, e não “vagabundo”. Ou seja, são estilos de vida diferentes, e não critico os que trabalham incessantemente. Acho que cada um faz o que dá mais prazer, e se o trabalho intenso dá, faça-o! Mas se você trabalha muito e sofre com isso, mesmo fazendo o que gosta, por não ter folga ou por não ter dinheiro suficiente,  acho que as dicas podem ajudar.

Uma colega de trabalho comenta que chego sempre bronzeado e me chama, carinhosamente e em alto e bom som, de vagabundo – na verdade “vagabundo”. O que muitos não sabem é que até chegar aqui, até comprar essa “vagabundagem” trabalhei e estudei muito, e poupei o suficiente; ou seja, inverti minhas prioridades. Troquei as noitadas e cachaçadas pelo estudo. Foi a minha opção, na verdade a única pois meus pais sempre foram pessoas simples. E há quem diga que não vivi por ter estudado muito – se alguém acha que penar um pouquinho no começo pra chegar aos 35 tirando 3 dias de folga por semana, e fazendo uma viagem ao exterior por ano, é tanto sofrimento assim acho mais é que tem que tomar muita cachaça e torrar todo o dinheiro mesmo.

Penso que a primeira regra pra se tornar um “vagabundo” é não ser, no início, vagabundo; mas, o contrário, estude e trabalhe muito. Isto é, a maior esperteza do vagabundo é que ele não pode crescer vagabundo, pois não acumulou nada de riqueza ainda; mas envelhecer como vagabundo, desfrutando o ócio e a liberdade comprados com a poupança da juventude.

A opção da maioria é curtir a vida adoidado até os 30 e depois disso trabalhar adoidado pra pagar as contas, até porque por estudar pouco o emprego que se arruma geralmente não é lá grande coisa. Eu segui o caminho inverso, estudei adoidado até os 30 depois disso é que resolvi curtir a vida, e acho que com maturidade a curtimos de forma melhor e mais saudável. Repito: NÃO SOU RICO, NÃO QUERO UM MILHÃO, E NÃO PRECISO DELE!

Usando da própria experiência deixo abaixo uma sugestão dos 10 mandamentos do vagabundo profissional:

Aproveite a tenra idade e o vigor físico e estude, estude e estude. E no intervalo dos estudos  trabalhe, trabalhe e trabalhe. É um "sofrimento" necessário no começo.

Homem tende a ser meio idiota, geralmente gasta toda a grana com um carrão, financiado, para impressionar as mulheres. Mas, acorde! Nem todas as mulheres ligam pra isso, e as que ligam são exatamente aquelas que vão exigir que você pague também a conta cara do bar, a academia, as compras, as roupas e, no fim, se a Lei de Murphy te pegar, também a pensão. Portanto, fará papel de idiota duas vezes. Isso se não levar um pé na bunda antes porque ela fugiu com outro idiota que tinha mais dinheiro que você, ou não - o Eike Batista com toda aquela grana não segurou a Luma de Oliveira meus caros. Portanto, se você é um inveterado mulherengo ao menos evite os exageros e gaste menos dinheiro com cachaça e mulherada, até porque depois dos 30, se não tiverem levado todo o seu dinheiro com pensões, você vai querer continuar fazendo isso. E é exatamente nesse momento que mais precisará de dinheiro, mas não o terá porque torrou tudo antes.

Um carro mais caro pode não te garantir sucesso com as mulheres, mas com certeza lhe trará mais custos. Portanto carro mais caro = IPVA mais caro, seguro mais caro, reparos mais caros. Não precisa exagerar e andar num fusca 66 caindo aos pedaços. Sua poupança crescerá mas, com certeza, não pegará ninguém. Ou seja, contente-se com o que o seu bolso pode comprar e engorde a poupança!

Estabeleça prioridades e tenha um foco. Não dá pra sair com todas as mulheres, trocar de carro todo ano, ir em todas as baladas, beber todas as cervejas, fazer todos os cruzeiros. Centre o foco, escolha 1 dia da semana pra entornar o caldo; tente ser monogâmico, do ponto de vista financeiro sai bem mais barato; faça 1 cruzeiro ou 1 viagem ao exterior por ano. Se a Europa não dá, vá pra Argentina ou Chile.

Estabeleça uma meta mensal de poupança, como 10% ou 20% do salário, R$200 por mês etc. Coloque esses valores na planilha que postei no artigo do tio patinhas e veja o quanto terá aos 35 ou 40 anos. Faça simulações e veja o quanto te satisfaz de retirada mensal. Poupança maior = retirada maior!

Use sempre camisinha, e das boas – e aqui não deve ter economia alguma. Ou seja, adie a paternidade. Deixe os filhos pros 32 ou 33 anos. Terá uma vida financeira melhor estruturada, e a cabeça também, porque casar e morar na casa da sogra ... pqp ... é fim de carreira. E, neste caso - apenas nele - a sua sogra terá razão em ser chata, afinal ter um vagabundo (sem aspas) mamando nas tetas dela é demais.  Lembre-se: o tempo não para, não dá pra voltar atrás e corrigir os erros do passado. Depois que a cerveja virou xixi, ou o espermatozoide um filho, já era!

Tente entender um pouco de economia e finanças pra não depender sempre do rendimento da poupança, que as vezes não cobre sequer a inflação. Leia o tópico do blog sobre dicas de investimento, vai ajudar muito.

NUNCA se preocupe se vão te achar pão duro ou miserável – cuidado pra não deixar de comer pra poupar pois não tem sentido. Se você tem suas prioridades e é feliz com elas isso é o que importa, não entendo porque as vezes temos a necessidade de sermos felizes pros outros. Boa parte dos que passaram a vida me chamando de miserável hoje não tem bem algum, trabalham o dia todo, estão com uma penca de filhos (não planejados), e ganham salários medíocres. Mas, observe que só acho isso medíocre se esse estilo de vida não faz o sujeito feliz, e a maioria não é.

Você mora num 'caixote' de 50 ou 70m2 e paga faxineira?? Tá com medo de quebrar as unhas, parceiro? Ou acha vergonhoso ajoelhar no box pra fazer uma limpeza? Ainda acho mais vergonhoso chegar aos 70 trabalhando feito um burro de carga e ainda continuar se gabando de ter uma diarista (coisa de emergente soberbo). Faça as contas do quanto a economia com uma faxineira, 1 vez por semana, lhe renderá em 20 anos. E vai chegar com as unhas inteiras, acredite.

10º Se você chegar até aqui, NÃO POUPE MAIS! Pratique um esporte, viaje, namore (mas fuja das periguetes!), case, tenha filhos, SEJA FELIZ. Surfar, voar, pedalar, ou apenas caminhar na praia no meio da semana, é bom demais, acredite!
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Mas, qual o valor de uma vida feliz?

Os resultados de uma pesquisa realizada por 2 professores da universidade de Princeton (EUA), entre 2008 e 2009 – um economista escocês e um psicólogo israelense (o único psicólogo no mundo a receber um Nobel de economia) - mostram uma correlação entre a riqueza de um indivíduo e o bem estar que ela o proporciona. Resumidamente, a riqueza aumenta a felicidade quando serve para retirar as pessoas da pobreza e levá-las à classe média. Além desse ponto, riqueza adicional não trará MAIS felicidade, ela se estabilizará. Pelos dados concluíram que isso se dá, nos EUA, a um valor aproximado de 75.000 dólares anuais, o equivalente (com dólar a R$3,00) a, aproximadamente, 225.000 reais (19.000 de renda mensal). O que eles concluem é que acima desses 75 mil a curva de bem estar social se estabiliza, ou seja, os que ganham 5 milhões de dólares no ano não são mais felizes que os que ganham 75 mil, ambos tem o mesmo nível de satisfação. A explicação é relativamente simples e a reproduzo tal qual a reportagem da revista: “Para ganhar mais as pessoas assumem atividades mais estressantes e dedicam menos tempo livre a atividades que lhes dão prazer – sair para tomar uma cerveja com amigos, passear com os filhos, assistir aos seriados favoritos na TV ou mesmo entregar-se ao dolce far niente.” (Revista Veja, pg. 96, setembro de 2010). Ou seja, a economia, como acontece com a maioria das ciências humanas, também se vale da psicologia para entender alguns fenômenos que contradizem o senso comum. Nessa pesquisa, o valor de 75 mil é interessante, pois ele é suficiente para colocar o indivíduo na classe média, garantindo seu carro novo, TV nova, plano de saúde, e a compra de atividades de lazer. Em suma meus caros, o Eike Batista não é, necessariamente, mais feliz do que a gente.

PS1: apesar de esse manual parecer direcionado ao mundo masculino também se aplica às mulheres. A vantagem nesse caso é que tendem a ser menos idiotas do que os homens em alguns aspectos. Portanto, são menos mandamentos a serem seguidos. De resto, é só trocar a palavra "carro" por "roupas e sapatos".

PS2: Ah! O cara da foto aí em cima sou eu, numa ensolarada manhã de quinta-feira.


PS3: o manual foi escrito há quase 7 anos. Hoje já estou efetivamente aposentado, aos 43 (em 2016). 

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¬ Títulos de capitalização: o 'ouro dos tolos'

Títulos de capitalização são aplicações, poupança, investimentos etc, que os indivíduos fazem nos bancos e que dão direito a um saque no futuro, corrigido - geralmente após 1 ano (em média). A bem da verdade, não podem ser classificados como nenhuma dessas modalidades, uma vez que quem coloca dinheiro em determinado lugar esperando ganhar um prêmio está, na verdade, participando de um jogo. Ou seja, título de capitalização é dinheiro gasto com loteria. Isso só fica visível quando largamos os prospectos, e toda a propaganda disponibilizados pelos bancos, e investigamos um pouco além. Vejamos o exemplo de um título de capitalização do Santander, o 'Santander Super Cap':

Na página principal do homebank as informações básicas são as seguintes:

- "Com uma única parcela que pode ser de R$200 a R$1.000,00, você recebe 4 números da sorte para concorrer";
- "E o melhor de tudo: no final do plano, você resgata o valor pago corrigido pela TR (ou outro índice que por ventura venha a substituí-lo)";
- "E se precisar, pode efetuar o resgate já a partir do 12º mês. Caso o resgate seja feito antes do término do prazo de capitalização, o valor será reduzido".

Resumo: somos induzidos a entender que aplicando, emprestando dinheiro ao banco, de 200 a 1.000 reais receberemos esse valor no fim dos 60 meses corrigidos pela TR. Como a TR no ano não passa de 0,7% (considero uma média de 0,05% ao mês) e a inflação (IPCA) gira em torno de 6% significa que, por ano, eu estaria perdendo 4% do valor aplicado - lembre que o seu dinheiro ficou parado por 1 ano e a inflação o corroeu; receber de volta apenas 0,7% ainda te deixa no prejuízo de 5,3%. Todavia, pra entender mesmo o que se passa nos bastidores é preciso abrir um prospecto com as informações completas. Aí a coisa piora, vejamos abaixo o porquê.

Entendendo a linguagem dos espertos:

a) sorteio e carregamento: "os percentuais para os custos de sorteio e carregamento são de 7,1244% e 18,7356% e se destinam, respectivamente, à realização dos sorteios e às diversas despesas dos títulos, tais como:administração, operação e comercialização". Ou seja, do que você depositou 25,86% foram embora para bancar os prêmios e os custos de comercialização do título, incluindo as propagandas bonitinhas pra enganar todo mundo - você imaginou que o dinheiro disso sairia de onde?? Significa que sobram 74,14% para você resgatar no final, que eles chamam de reserva de capitalização, como explicado a seguir;

b) reserva de capitalização: "será constituída por um percentual do pagamento único, de 74,14% de cota de capitalização, atualizada mensalmente no último dia do mês, pela TR (Taxa referencial de juros) do período de apuração do mês e capitalizada à taxa de juros de 0,5%, gerando o valor de resgate do Título". Traduzindo, se você depositou R$1.000 perderá, de cara, R$258,6 (25,86%). O restante, R$741,4, será acrescido de juros mensais de 0,5% + TR, ao longo dos próximos 60 meses. Isso resulta em um montante de R$1.030. Hum, significa que sai no lucro pois ganhei R$30,00? Nem de longe. Um depósito de R$1.000 na poupança, pelo mesmo período, renderia (cuja finalidade é apenas cobrir a inflação) R$1.390. Portanto, você perdeu R$360,00 - seu ganho nominal (aparente) de R$390, quando descontado da inflação (ganho real), se transforma em um prejuízo REAL de R$360. Ah, mas eu poderia ter ganhado um prêmio nos sorteios. Se pensa assim melhor pegar os R$360 e jogar na megasena, afinal está utilizando título de capitalização não como poupança, mas como um jogo. Nesse caso os conselhos aqui não lhe serviriam de nada.

Ou seja, o que o gerente do banco te prometeu ao adquirir com ele o Santander Super Cap? Garantiu que você receberia seus R$1.000 + TR (60 meses) = 1.030. BINGO!!! Repararam que isso bate exatamente com o valor acima (R$1.030)?? Agora imagine se ele te fala de reserva de capitalização, sorteio e carreamento, 0,5%, TR etc etc. Quem entraria numa dessa? Melhor então citar só a TR e omitir o resto, fica mais fácil de enganar e convencer. Então, o que você está realmente ganhando com essa aplicação? NADA, perdeu R$360.

Mas, pra não contrariar a Lei de Murphy, será que há algo tão ruim assim que não possa piorar?? Há! Em um dos parágrafos do contrato do título está escrito:

"9.8* - Caso o valor de resgate seja superior ao valor do pagamento único haverá incidência de Imposto de Renda sobre a diferença entre o valor de resgate e o pagamento único, conforme legislação em vigor".

E não poderia ser diferente, o 'Grande Irmão' também quer o seu quinhão. Isto é, sobre os R$30 de "ganho" com o título você ainda terá que pagar 15% de IR (Imposto de Renda), exatos R$4,5, o que joga o seu "ganho" pra R$25,5. Lembre que só a poupança, e outros poucos investimentos, são isentos de IR. 

Mais um parágrafo do contrato do título de capitalização do Santander, comum a todos os outros, pra quem achou que não poderia piorar:

- "9.1* Ao final do prazo de vigência do Título, o Titular terá direito a 100% do valor constituído na reserva de capitalização"

Ou seja, se você já fez a "burrada" de colocar seu dinheiro nesse negócio, nem pense em tirar antes do 60º mês, pois há uma tabela regressiva pra te penalizar, como mostro abaixo:

resgate no 1º mês: 74,51% da reserva de capitalização
...
resgate no 10º mês: 77,93% da reserva de capitalização
...
resgate no 60º mês: 100% da reserva de capitalização


Agora pense comigo. Vimos no início que a compra de um título de capitalização desses te paga uma TR de 0,7% no ano, aproximadamente. Comparando com a inflação oficial (IPCA) daria um prejuízo anual de 5,3% (6% - 0,7%) sobre os R$1.000. Como o título tem 60 meses teríamos 5 anos de prejuízo, supondo sempre essa inflação de 6% no ano, perfazendo um total de 27,6%.

Não entre nessa, fuja desse mico. Jogue suas economias na poupança mesmo e não sofra.



¬ A nova regra da poupança

Desde de maio de 2012 a poupança mudou, na verdade mudou para os novos depósitos a partir desta data. Antes dela a regra básica era que a sua aplicação renderia 0,5% ao mês mais um adicional, bem pequeno, calculado pelo governo chamado de TR (taxa referencial), que tem ficado entre 0,02% e 0,05% no mês. Ou seja, no ano a poupança daria, obrigatoriamente igual em qualquer banco, em torno de 6,3% a 6,5%, em função exatamente das pequenas variações nessa TR, já que a poupança em si rende exatos 0,5% (6,17% no ano).

 Acontece que esse juro da poupança passou a ter uma relação ainda mais estreita com a taxa selic, juro negociado entre governo e bancos, de 2012 pra cá. Isso por que a selic caiu bastante, chegando ao seu menor nível da história em 2012 (7,25%). Tentando explicar melhor ... O governo costuma pegar dinheiro emprestado com os bancos, pagando por isso um juro chamado de taxa selic. Fazendo isso ele deixa os bancos com menos dinheiro em caixa, e isso resulta em uma elevação nos juros para nós consumidores, que com juros maiores compramos menos. O resultado dessas comprar a menos é que a inflação também sobe menos. Assim, o governo atinge seu objetivo (clique aqui e veja uma explicação detalhada sobre essa política)

O problema é que essa tal de taxa selic é que serve de referência pra boa parte dos fundos de investimento DI e renda fixa, reduto de grandes investidores. Se essa taxa selic cai muito até nos ajuda, pois teremos mais dinheiro disponível e a um juro menor, porém o ganho pra quem aplica nesses fundos não fica mais tão atrativo, podendo render menos até do que a poupança. Além disso, outras aplicações em renda fixa, que tem como referência essa taxa selic, começam também a ficar ruins, como os CDB's - lembrando que o dinheiro depositado neles é destinado pelos bancos ao financiamento do consumo, investimentos empresariais etco. Assim, a queda na selic em 2012 acabou afastando muitos grandes investidores dessas aplicações e, por consequência, jogando muito dinheiro pra dentro da caderneta de poupança. E qual o problema nisso? Na verdade temos 4 deles:

O primeiro é que o dinheiro que depositamos na caderneta de poupança é obrigatoriamente emprestado, em sua maior parte (65%), para o setor imobiliário (financiamento de casas, apartamentos etc). Com isso, os depósitos em massa na caderneta fizeram com que sobrasse uma quantidade também exagerada de recursos pra esse setor e, menos para os outros. 

O segundo é que o diheiro aplicado nos fundos DI e renda fixa é emprestado ao governo para fins de política monetária. Isto é, o governo eleva a taxa selic, atraindo o dinheiro dos bancos, que com menos dinheiro encarecem o juro para nós consumidores, com juros maiores compramos menos, assim a inflação fica sobre controle. Já que os investidores sairam do fundo DI e foram pra poupança o governo perderia um pouco do controle sobre esse dinheiro que tira dos bancos pois ele entraria em circulação e poderia afetar, pra cima, a inflação.

O terceiro funciona da seguinte forma. Imagine que eu devo a um banco uma quantia. E que só consiga pagar os juros dessa quantia todo mês. Nesse caso preciso renegociar todo mês com o banco o total da minha dívida - e rezo para que ele não a cobre de uma vez só. Ou seja, o banco aplicou dinheiro em mim enquanto pessoa física, me emprestou dinheiro, e recebe todo mês um juro por isso, sabendo que eu não tenho como pagar o total da dívida. Assim, ele vive só dos juros que eu pago, o que não é lá muito ruim, já que os juros são altos. Agora imaginem que eu seja o governo, e que os bancos vivam dos juros do dinheiro que me emprestam e que, de repente, eu pague por decisão própria menos juros a esses bancos (taxa selic menor). O interessante pra eles é parar de me emprestar e emprestar pra outros, ou aplicar em outro lugar, poupança por exemplo. A partir daí o governo fica sem acesso ao dinheiro dos bancos pois estes exigem que ele pague toda a dívida pois é melhor colocar esse dinheiro na poupança. Se todos os bancos exigem isso e o governo, obviamente, não tem esse dinheiro na mão a situação se complica. É o que se diz no mercado, e o fiz de forma bem simplificada, que o o governo tem dificuldade de rolar a divida interna. Em linhas gerais, não só não tem crédito novo pra ele, como fica todo mundo querendo que ele pague a dívida que foi feita no passado - dinheiro que ele não tem!

 O quarto é que, como citei, outros investimentos que tem como referência a taxa selic, os CDB's, por exemplo, e que financiam o nosso consumo e o investimento das empresas, também ficariam menos atrativos resultando em menos empréstimos disponíveis. 

Diante desses 4 problemas o governo optou então por mudar a regra da poupança, com o objetivo especifico de afastar esses grandes investidores e mantê-los nas suas aplicações originais. Definiram que quando a taxa selic ficasse abaixo de 8,5% os novos depósitos na caderneta renderiam não mais os 0,5% ao mês mais a TR, mas 70% da taxa selic. Mas, por que exatamente 8,5%? Porque com a selic nesse patamar as outras aplicações renderiam 8,5%, que ainda é superior à poupança, mas se retirarmos delas o IR e outras taxas que os bancos cobram, o rendimento seria inferior ao conseguido na poupança. Nesse caso, toda vez que chega em 8,% haveria uma tendencia natural de todos migrarem pra caderneta. Só que, com a nova regra, ao depositar na caderneta com essa selic em 8,5% ele cairia na nova regra, ou seja, receberia apenas 70% desses 8,5%, o que resulta em um ganho de 5,95% ao ano, bem inferior aos 6,3% da poupança. Para o investidor não valeria a pena entrar na poupança. Da mesma forma, se a taxa selic sobe e fica acima de 8,55% essa esquema não precisa ser utilizado já que os investidores, naturalmente, buscariam novas aplicações uma vez que ganhando 9%, por exemplo, e retirando o IR e taxas ele teria uma ganho, em tese, melhor do que a poupança. Então, quando a taxa selic passa de 8,5% essa nova regra perde o sentido e tudo volta a funcionar na velha regra. 

Resumindo: se faço um deposito hoje na poupança o meu rendimento vai depender de quanto estiver a taxa selic. Se ela estiver de 8,5% pra baixo receberei 70% dela, se estiver de 8,75% pra cima recebo os 6,3% no ano nos moldes da poupança antiga. Ou seja, o esquema da poupança antiga só morre quando a selic ficar abaixo dos 8,5% - lembrando que quem tinha conta na poupança antes de maio de 2012 não está nem um pouco preocupado com isso pois receberá sua remuneração sempre pela regra vela. Segue a seguir uma tabela com o rendimento da poupança com taxa selic abaixo disso.  

tx selic 70% da selic % no mês
regra 'velha' 8,75% 6,170% 0,50%
regra nova 8,50% 5,950% 0,496%
regra nova 8,25% 5,775% 0,481%
regra nova 8,00% 5,600% 0,467%
regra nova 7,75% 5,425% 0,452%
regra nova 7,50% 5,250% 0,438%
regra nova 7,25% 5,075% 0,423%
regra nova 7,00% 4,900% 0,408%
regra nova 6,75% 4,725% 0,394%
regra nova 6,50% 4,550% 0,379%
regra nova 6,25% 4,375% 0,365%
regra nova 6,00% 4,200% 0,350%
regra nova 5,75% 4,025% 0,335%
regra nova 5,50% 3,850% 0,321%

¬ 7 motivos para continuar na poupança

Tem muito especialista criticando a ideia de que a caderneta de poupança é um investimento atrativo. Alguns alegam até que quem o faz denota uma grande ignorância financeira. A bem da verdade, como investimento propriamente dito, ou seja, aquilo que faz seu capital crescer, pode até ser. Mas, a poupança não foi feita pra isso, foi feita para proteger as suas economias. E nesse ponto não é, nem de longe, um 'investimento' ruim. Ou seja, partindo do pressuposto de que não sou só mais um ignorante financeiro, até por que tenho um bom 'trocado' lá, dou aqui 7 motivos pra você continuar, ou entrar, na caderneta:

1ª a poupança rende no ano 6,16% (0,5% ao mês capitalizados por 12 meses) mais a TR. Com isso chegamos próximo a 6,5% no ano. Lembrem que a inflação anual no Brasil, IPC-A ou INPC, não tem passado de 6,5%. Isso significa que a poupança ao menos nos protege dela. Pode não haver ganho real, mas também não há perda real. Outros investimentos podem, de fato, dar um ganho real, mas também podem implicar perda real, algo que não aconteceu no fechamento anual da poupança na última década. CUIDADO: Tem muito espertalhão malicioso aí que coloca um gráfico mostrando que a poupança perdeu pra outros investimentos em alguns meses. Ora, não interessa se ela perdeu em um ou outro mês, o que interessa é que no fim do ano ela garantirá os 6,16% + TR. Se isso cobriu a inflação, que não tem passado de 6,5%, você não está perdendo dinheiro. Mas, como ignorantes financeiros façamos umas continhas básicas pros últimos 10 anos:

IPCA de Abril de 2003 a abril de 2013 = 72% - quem quiser pode conferir aqui.
Poupança de Abril de 2003 a abril de 2013 = 82%. Para um rendimento anual de 6,16% [(1,0616)^10] - notem que nem inclui a TR

Ou seja, nos últimos 10 anos, considerados até o mês de abril, a poupança teve um GANHO REAL de 10%, ou 10p.p acima da inflação oficial - por que essa informação não nos é repassada pelos 'analistas'? Se colocarmos as mesmas contas para o período de 2002, quando o dólar bateu em 4 reais e a inflação disparou, a poupança teve um prejuízo real de 10%. Isto é, nos últimos 13 anos, considerando a fatídico ano de 2002, a poupança teve sim prejuízo. Mas, até que não foi ruim no meio de todo aquele caos.

2º nem todo mundo entende de investimentos, ou sequer tem tempo pra isso. Na dúvida, não jogue sua poupança na mão de analistas financeiros, ou gerentes de banco, que estão ali apenas para cumprir suas metas mensais e ganhar suas taxas de administração. Acredite, eles não estão preocupados com a rentabilidade das suas economias. Ou seja, a chance de você errar, ou cair numa dica furada, acaba sendo maior do que a de acertar.

3º se você não tem muito para aplicar não faria diferença alguma ganhar 2 ou 3% a mais no fim do ano em outra aplicação. Lembrem-se, se quiser multiplicar suas economias a caderneta de poupança não é o lugar mais apropriado, pois ela serve apenas como proteção contra a inflação.

4º não se encante com os noticiários mostrando que o dólar foi a melhor aplicação do mês, ou a bolsa, ou o CDB etc etc. Não é fácil migrar de um investimento para outro, até porque a lucratividade de alguns depende do prazo no qual é aplicado sendo que, se resgatado antes do prazo, a redução no IR é menor, comprometendo o ganho - em muitos casos os investimentos precisam ficar por mais de um ano pra conseguir redução no IR. Além disso, não basta saber qual rendeu mais em cada mês, você teria que ter uma bola de cristal ou ser uma incorporação da Mãe Diná pra acertar sempre.

5º se a poupança continua recebendo grandes volumes de depósitos podemos supor que tem gente com muito dinheiro, e uma razoável instrução financeira, que poderia estar ganhando em outro lugar mas, resolveu aplicar ali. Por que, então, você sairia?

6º a poupança tem a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) de até R$250.000. Ou seja, se o seu banco quebrar vc pode sacar o que tiver na poupança, até o limite citado - isso por cpf e por instituição financeira. Caso tenha 250 mil em um banco e 250 mil em outro poderá sacar os 500 mil. Lembrando que também tem esse direito as aplicações em CDB's, LH (letra hipotecária), LCI (letra de crédito imobiliário) e LC (letra de câmbio). Veja as regras aqui.

7º fique na poupança até que o montante seja razoável e valha a pena procurar algo com rentabilidade melhor. Mas, o que é um montante razoável? Um valor tal que uma diferença entre aplicações de 2% ou 3% faça você realmente repensá-la. Estamos falando, portanto, da casa dos 5 dígitos. Sobre R$10.000 teríamos um ganho nominal de R$300 no ano (3%). Sobre R$50.000 seriam R$1.500, e por aí vai.

Qual o 'pano de fundo' então pra tanta critica à poupança por parte dos analistas? Elementar. Aplicações na poupança não dependem de intermediários, e onde não há intermediário não há custos adicionais. Ganha você, deixam de ganhar eles!

Fique sempre de olho na relação Selic x IPCA e refaça essas contas assim que a taxa selic suba de forma mais acentuada. Com altas fortes dela a poupança passa, de fato, a ser uma opção menos atrativa de 'investimento'. Assim que a selic passar de 10% no ano comece a monitorar as LCI (letra de crédito imobiliário) e LCA (letra de crédito agrário), elas não tem IR e pagam um percentual do CDI (taxa parecida com a selic) que gira entre 82% e 86%, dependendo do montante aplicado.

leia também: "Nova regra da poupança" e "Poupança ou CDB"


¬ Poupança ou CDB?

São inúmeras as possibilidades de investimento no mercado financeiro, das mais arriscadas (como ações) às menos arriscadas (poupança, cdb's, títulos públicos etc). Comecemos com duas das menos arriscadas e mais tradicionais, a poupança (com rendimento definido pelo governo, obrigatoriamente) e o CDB (cujo rendimento é negociado com os bancos e sem ingerência do governo). Já a terceira, aplicações em títulos públicos, trataremos em outro artigo.

Notem que nestas duas aplicações o banco assume o papel de atravessador, como vimos na lição de economia nº14. Em ambos os casos o banco se vale do dinheiro que o emprestamos, vendemos, para fazer suas aplicações; e não nos interessa onde ele o aplica, até porque vendemos o dinheiro a ele com a obrigação de recomprá-lo um tempo depois.

No caso da poupança, o governo determina que no mínimo 65% do dinheiro que deixamos com os bancos seja destinado por estes para empréstimos ao setor de habitação. Para fugir disso os bancos criaram um outro tipo de poupança, os Certificados de Depósito Bancário, ou CDB's, eliminando a obrigação de destinar boa parte dos recursos ao setor imobiliário. Isso lhes dá também a liberdade de negociar com seus clientes a rentabilidade. Centremos, então, o foco no CDB.

O CDB nada mais é que um depósito de longo prazo. E são duas as variáveis que definem a rentabilidade que teremos nesse depósito: (1) o prazo da aplicação, pois quanto maior menor a incidência de IR; e (2) o valor aplicado.

Antes de fazermos alguns cálculos vale uma observação relevante. Os bancos realizam operações de crédito entre si  denominados certificados depósitos interbancários (CDI), e o juro dessa operação é denominado juro do CDI. Mas o que determina o que um banco cobra do outro (esse tal de juro do CDI)? Acaba sendo o juro que o governo paga no mercado quando toma empréstimos, a taxa selic. Ou seja, selic é o juro que o governo paga ao pegar dinheiro emprestado com os bancos, que serve de referência para os empréstimos feitos entre os próprios bancos, sendo neste caso chamado juro do CDI. Portanto, quando emprestamos dinheiro ao banco a referência pro que receberemos acaba sendo também o CDI, e por tabela, a taxa selic, já que uma coisa deriva da outra.

Logo, ao emprestarmos dinheiro a um deles recebemos o tal do CDI. Todavia, o banco nos paga apenas um percentual dele ao depositarmos nosso dinheiro no CDB, e esse percentual que nos é pago depende do montante que temos pra aplicar. Utilizarei aqui a tabela de CDB, pós fixado, do Banco Real como ilustração:

;
VALOR DA APLICAÇÃOREMUNERAÇÃO
R$ 500,00 a R$ 4.999,9980% do CDI
R$ 5.000,00 a R$ 9.999,9985% do CDI
R$ 10.000,00 a R$ 19.999,9990% do CDI
R$ 20.000,00 a R$ 49.999,9992% do CDI
R$ 50.000,00 a R$ 99.999,9995% do CDI
R$ 100.000,00 a R$ 199.999,9997% do CDI
R$ 200.000,00 a R$ 399.999,9998% do CDI
R$ 400.000,00 ou acima99% do CDI

.
Como já mencionamos, quanto mais dinheiro aplicarmos maior nossa rentabilidade. Assim, quem tiver de R$400 mil pra cima consegue ganhar praticamente toda a taxa do CDI no período, ou seja, toda a taxa selic, já que os tratamos aqui praticamente como sinônimos.

Mas, também vimos que a remuneração depende do prazo da aplicação, pois sobre os ganhos com o CDB incide IR. Porém, na medida em que deixamos o dinheiro por mais tempo o governo nos entende enquanto investidores, e não especuladores, agraciando-nos com uma redução no percentual do IR de acordo com a tabela abaixo:

Prazo de Aplicação          Alíquota de IR 
faixa 1: até 180 dias22,5%
faixa 2: de 181 até 360 dias20,0%
faixa 3: de 361 até 720 dias17,5%
faixa 4: acima de 721 dias15,0%


Juntemos, então, as duas variáveis que determinam a rentabilidade do CDB (IR e valor aplicado) e façamos uma simulação.

Se aplicarmos, por exemplo, R$20.000, por 1 ano (365 dias), receberemos 92% do CDI (de acordo com a tabela do Real) e teremos uma alíquota de 17,5% de IR sobre o ganho (faixa 3 da tabela de IR). Supondo, ainda, que a selic, e o CDI, no fim do ano esteja em 10% teríamos uma remuneração de 92% dos 10%, ou seja, 9,2%. A remuneração do CDB seria a seguinte:

.
20.000 x 9,2% = 1.840 de ganho.

.
Como conseguimos uma pequena redução no IR, por termos deixado o dinheiro parado por 1 ano (faixa 3), pagaremos 17,5% de imposto sobre o ganho. Logo,

.
1.840 x 17,5% = 322 de IR pago, o que nos dá um rendimento líquido de:

1.840 – 322 = $1.518
;

Ou seja, saímos com 21.518 ou 7,59% (1.518/20.000) de rentabilidade líquida, como mostra a simulação abaixo.

É exatamente essa rentabilidade que devemos comparar com a poupança (lembrando que ela não tem IR) para sabermos onde investir. No exemplo abaixo vemos que com um rendimento de 6,77% do ano na poupança, o que ganharíamos com CDB, a uma taxa selic de 10% ao ano, é muito pouco sobre os R$20.000, apenas R$164. Alguns sites tem planilhas com simulações. Fiz uma simulação básica pra entenderem como funciona.

.CDB
1. APLICAÇÃO (1 ano)R$ 20.000,00
2. CDI ou selic (em %) estimado no fim de 1 ano
10,0

3. % do CDI para o montante aplicado            92,0
4. Rendimento % da aplicação (2 x 3)              9,2
5. RENDIMENTO TOTAL BRUTO (4 x 5)R$ 21.840,00
6. RENDIMENTO LÍQUIDO ANTES DO IRR$ 1.840,00
7. % de IR referente ao tempo de aplicação      

17,5
8. IR a pagar (6 x 7)

       R$ 322,00
9. RENDIMENTO LÍQUIDO (6 - 8 )R$ 1.518,00
10. % de RENDIMENTO LÍQUIDO (9/1)7,59%
POUPANÇA
Poupança anual (0,5% ao mês)6,17
TR anual (0,05% ao mês, em média)0,60
% poupança + TR (no ano)6,77%
RENDIMENTO LÍQUIDO CDBR$ 1.518,00
RENDIMENTO LÍQUIDO POUPANÇAR$ 1.353,89
DIFERENÇA CDB  X  POUPANÇA NO ANOR$ 164,11

 .

OBSERVAÇÕES ADICIONAIS:

1) Observem que essa simulação foi feita com um CDB pós fixado, ou seja, só sabemos o valor do CDI no fim do prazo da aplicação. Como são várias as possibilidades de CDB’s, se optarmos por um pré fixado significa que determinamos hoje o que ganharemos no fim do ano. A primeira vista pode parecer interessante, mas lembre-se que se determinarmos um CDB hoje com 10% de CDI (selic) pré fixado e no final do ano o CDI estiver em 20% ganharemos apenas os 10%. Pode parecer suficiente, mas o CDI subiu porque a selic subiu. E se a selic subiu é porque a inflação também subiu. Logo, se o CDI está em 20% é porque a inflação estará bem elevada, por exemplo, em 10%. Nesse caso, como pré fixamos o ganho ele acaba sendo completamente corroído pela inflação do período, o que foi um mau negócio. Assim, se a tendência da inflação é de alta o melhor é um CDB pós, se a inflação tende a desacelerar um pré é mais apropriado. Temos aqui então a terceira variável que determina o rendimento real do CDB, a inflação. Relembrando: (1) o prazo da aplicação; (2) o valor aplicado; (3) a inflação no período.

2) Tanto CDB quanto poupança tem um fundo garantidor de crédito (FGC) de R$250.000 por CPF/CNPJ (dados de 2013, sendo que esse valor sobe com o tempo). Ou seja, se o banco quebrar apenas estas duas aplicações tem direito a um reembolso nesse valor. Se você tem R$300.000 e o banco quebrou contente-se com os R$250.000. Porém se forem 250 mil em um banco e 50 mil em outro você saca os 300mil. Além de poupança, conta corrente e CDB outros tipos de aplicações também tem a garantia: letras de câmbio (LC), letras hipotecárias (LH), letras imobiliárias (LI) etc. Fundos de Investimento não tem essa cobertura, pois segundo o FGC "Os Fundos de Investimentos Financeiros são entidades constituídas sob a forma de condomínios abertos. É uma comunhão de recursos arrecadados de clientes para aplicação em carteira diversificada de ativos financeiros, cujos regulamentos são registrados em cartórios de títulos e documentos. Geralmente são administrados por uma instituição financeira e estão sujeitos a supervisão e acompanhamento do Banco Central do Brasil ou da CVM - Comissão de Valores Mobiliários, dependendo de sua natureza" (veja o site do FGC aqui)

3) Ao aplicar em um CDB o interessante é o prazo da aplicação, quanto maior menor o IR. Se precisar resgatar o dinheiro antes de 30 dias lembre-se que há incidência de IOF (imposto sobre operações financeiras), o que reduz consideravelmente a rentabilidade. Após os 30 dias estará livre desse imposto.

4) Aplicações mensais no CDB não tem sentido algum, pois você acaba negociando todo mês, por exemplo, um CDB de R$500 com o banco. Neste caso não terá jamais um bom percentual do CDI, por mais que já tenha 200 ou 300 mil aplicados em CDB no banco. Ou junta dinheiro por um tempo e faz uma outra aplicação acima de 30 ou 40 mil, ou procura outro investimento de baixo risco onde possa fazer aplicações mensais. É o caso dos títulos públicos comprados diretamente do governo (clique aqui e leia o artigo sobre o assunto)

5) Uma nota sobre a remuneração da poupança. O seu rendimento anual não são exatamente os 6% divulgados, isso porque essa taxa é anual mas a poupança é capitalizada mês a mês. Logo, o rendimento de 0,5% ao mês (6/12), que é uma taxa proporcional mensal aos 6% ao ano, quando capitalizado por 12 meses, isto é juro sobre juro, nos dá um pouco mais que os 6%; exatos 6,17%. Parece pouco, mas ao longo de 10 anos temos um percentual considerável. Portanto, fique atento em uma aplicação ao tipo de taxa utilizada. Para maiores detalhes veja o post sobre convenção e conversão de taxas.

¬ Cuidado com o desconto!

Muitos podem não ter ouvido falar, mas há duas formas de descontar um cheque, uma duplicata, ou uma antecipação do 13º salário, por exemplo. Quando vamos ao banco trocar um cheque ou pegar dinheiro antecipado para adiantar o 13º estamos fazendo um desconto. A partir daí temos duas formas de achar o juro embutido na operação. Uma é chamada de desconto por dentro, ou racional, a outra de desconto por fora, ou bancário.

Os bancos nos divulgam, obviamente, o desconto por fora, que não mostra efetivamente o juro embutido na operação. Vejamos o seguinte exemplo:

Troca (desconto) de um cheque R$1.000 com um custo (desconto) de 10%. Ou seja, entregamos o cheque de 1.000 e saímos com 900 reais no bolso. O custo dessa operação parece ser de 10%, mas na verdade não é. Esse é o desconto por fora (ou bancário), ou seja, sobre o valor do cheque, ou do empréstimo.

Se pararmos pra pensar pagamos R$100 não sobre os R$1.000, mas sobre os 900 que pegamos com o banco. Isto é, esses R$100, por lógica, devem ser comparados com o dinheiro que realmente saímos do banco, ou seja, R$900. Neste caso o juro não é de 10%, mas de 11,11% (100/900). Aqui sim temos o desconto racional, lógico, correto, denominado desconto por dentro, ou seja, pelo valor que recebemos em mãos.

E é assim com todas as taxas que pagamos no banco, como a tal da TAC (Taxa de abertura de crédito), proibida em abril de 2008. Ela acabava encarecendo o custo do crédito pois não é incorporada ao custo da operação. Se pegarmos um empréstimo de R$2.000 para ser pago no fim do mês com juro de 2% e uma TAC de R$200, paga no ato, temos a seguinte situação. Saí com R$1.800 do banco com a obrigação de pagar R$2.040 no fim do mês (2.000 + 2%). Ou seja, acabo tendo um custo de 200 da TAC + 40 de juros  = R$240. O custo efetivo da operação é de  13,33% (240/1800) e não 2%. Se não houvesse a TAC pagaria 40 de juros sobre os 2.000 que peguei em cash, ou seja, os exatos 2%. Dá pra assustar.

Portanto, pense duas vezes antes de descontar um cheque, antecipar 13º ou pegar algum crédito que tenha uma taxa extra qualquer descontada do valor emprestado. E lembre-se sempre que o desconto utilizado pelos bancos é por fora, ou seja, não é o custo real da operação.

¬ Financiamentos imobiliários: sistemas price e sac

Todo e qualquer tipo de prestação que pagamos é dividida em duas partes, uma é o juro da operação e a outra a amortização, abatimento, do principal da dívida que contraímos.  Esses pagamentos sucessivos liquidam a dívida em uma data futura. Logo,

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PRESTAÇÃO = AMORTIZAÇÃO + JUROS

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A forma como são calculadas as prestações, se decrescentes ou constantes, dão origem aos sistemas de amortização. Os 2 sistemas mais utilizados hoje no Brasil são o Sac e o Price. No entanto, cada instituição de crédito pode adotar o seu próprio sistema (clique aqui e veja algumas características dos financiamentos imobiliários do Banco do Brasil). Podem ter diferenças também com relação aos períodos de carência, não só tem termos de tempo, mas se os juros são pagos ou não durante a carência, se não pagos serão incorporados ao saldo devedor. Façamos uma simulação apenas para facilitar o entendimento de qual sistema é mais apropriado para o seu bolso.

Partindo de um exemplo único poderemos simular, e comparar, os 2 sistemas de amortização. Para tanto, suponhamos um empréstimo de $120.000 a ser quitado em 12 prestações mensais, a uma taxa de juros efetiva de 2% am, seguro de 0,01% do saldo devedor e taxa de administração de R$22,00 em cada prestação.

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SAC: SISTEMA DE AMORTIZAÇÕES CONSTANTES


mesesSaldo devedorAmortizaçãoJurosseguroTx adm.Prestação
0120.000 - - - - -
1                     110.000                  10.000         2.400                12                  22                12.434
2                     100.000                  10.000         2.200                11                  22                12.233
3                       90.000                  10.000         2.000                10                  22                12.032
4                       80.000                  10.000         1.800                  9                  22                11.831
5                       70.000                  10.000         1.600                  8                  22                11.630
6                       60.000                  10.000         1.400                  7                  22                11.429
7                       50.000                  10.000         1.200                  6                  22                11.228
8                       40.000                  10.000         1.000                  5                  22                11.027
9                       30.000                  10.000             800                  4                  22                10.826
10                       20.000                  10.000             600                  3                  22                10.625
11                       10.000                  10.000             400                  2                  22                10.424
12                                 -                  10.000             200                  1                  22                10.223
total                120.000       15.600                78                264              135.942

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Observem que nesse sistema as amortizações são constantes. Para tanto, basta dividir o valor da dívida pelo período do financiamento (120.000/12) para acharmos o quanto pagaremos mensalmente de depreciação. Como sabemos que prestação = depreciação + juros, para acharmos a prestação só precisamos encontrar os juros que incidem sobre o saldo devedor. 2% sobre 120.000 = 2.400. Logo, no primeiro mês temos que pagar 10.000 + 2.400 = 12.400 de prestação. Soma-se a essa prestação algumas coisinhas que eles cobram a mais. No nosso exemplo coloquei seguro (o,01% sobre o saldo devedor = R$12) e a taxa administrativa de 22.

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PRICE: SISTEMA DE PRESTAÇÕES CONSTANTES

O sistema Price foi criado pelo matemático inglês Richard Price. É comumente utilizado para o financiamento de bens e serviços (compras a prazo). Suas principais características são prestações constantes, compostas de amortizações crescentes e juros sobre o saldo devedor decrescentes. A taxa também pode ser divulgada em termos nominais anuais (isto é, proporcionais), o que, como vimos, implica em uma taxa equivalente anual superior à divulgada.

Nesse sistema, como é caracterizado pelas prestações constantes, temos primeiro que achar estas, para em seguida encontrar os juros e, a partir da diferença entre ambos, deteminar a amortização mensal. Observem que o caminho é inverso pois aqui a primeira coisa que achamos é a prestação. Para isso utilizamos a fórmula básica de prestação das lições de matemática anteriores, ou, diretamente pela HP12c:

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120000 (CHS) (PV) 2 (i) 12 (n) (PMT)

PMT = 11.347 (ainda sem o seguro e a taxa de administração)

Achamos em seguida os juros: 2% sobre 120.000 = 2.400.

Como a prestação é a soma do juro mais amortização, a amortização = 8.947 (11.347 - 2.400). No segundo mês continuamos com o mesmo raciocínio, e assim sucessivamente.
mesesSaldo dev.Amort.Juros    Prestação   seguroTx adm.   Prestação
0 120.000------
1             111.053       8.947  2.400            11.347           12                   22           11.381
2 101.927       9.126    2.221           11.347           11                   22           11.380
3          92.619           9.308    2.039           11.347           10                   22           11.379
4          83.124       9.495       1.852           11.347              9                   22           11.378
5          73.439       9.685       1.662           11.347              8                   22           11.377
6          63.561       9.878       1.469           11.347              7                   22           11.376
7          53.485     10.076       1.271           11.347              6                   22           11.375
8          43.208        10.277       1.070           11.347              5                   22           11.374
9          32.725     10.483           864           11.347              4                   22           11.373
10          22.033     10.692           655           11.347              3                   22           11.372
11          11.127      10.906           441           11.347              2                   22           11.371
12                     2     11.124           223           11.347              1                   22           11.370
total  120.000            16.166              136.164           81                264         136.509

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Nas simulações feitas aquitrabalhamos com taxas pré-fixadas. Utilizando o Banco do Brasil como exemplo, notamos que a linha de crédito para R$120 mil tem duas formas opcionais de juro anual: pré-fixada (13,75%) e pós-fixada (TR + 8,90%). Ou seja, fizemos os cálculos como se os juros fossem pré-fixados. Se utilizassemos a opção pós-fixada, precisariamos construir uma segunda coluna de saldo devedor e reajustá-lo pela TR (taxa referencial) que é um tipo de índice de inflação. Porém, o raciocínio continuaria o mesmo, apenas o juro de 8,90% incidiria sobre o saldo devedor reajustado pela TR mensal.

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Resumindo, olhando para os dois sistemas podemos tirar algumas conclusões:

* as prestações são maiores no SAC inicialmente, mas caem com o tempo e ficam menores no final do financiamento

* o valor total pago de juros, bem como o total do empréstimo, são maiores no PRICE. E essa diferença tente a ser maior quanto maior o prazo de financiamento. Pra 20 anos, por exemplo, teriamos um juro total pago no PRICE bem maior que no SAC.

Portanto, o melhor sistema é aquele que se encaixa melhor no seu bolso. Se puder dispor de mais dinheiro no começo é melhor utilizar o SAC.

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