¬ A nova regra da poupança

Desde de maio de 2012 a poupança mudou, na verdade mudou para os novos depósitos a partir desta data. Antes dela a regra básica era que a sua aplicação renderia 0,5% ao mês mais um adicional, bem pequeno, calculado pelo governo chamado de TR (taxa referencial), que tem ficado entre 0,02% e 0,05% no mês. Ou seja, no ano a poupança daria, obrigatoriamente igual em qualquer banco, em torno de 6,3% a 6,5%, em função exatamente das pequenas variações nessa TR, já que a poupança em si rende exatos 0,5% (6,17% no ano).

 Acontece que esse juro da poupança passou a ter uma relação ainda mais estreita com a taxa selic, juro negociado entre governo e bancos, de 2012 pra cá. Isso por que a selic caiu bastante, chegando ao seu menor nível da história em 2012 (7,25%). Tentando explicar melhor ... O governo costuma pegar dinheiro emprestado com os bancos, pagando por isso um juro chamado de taxa selic. Fazendo isso ele deixa os bancos com menos dinheiro em caixa, e isso resulta em uma elevação nos juros para nós consumidores, que com juros maiores compramos menos. O resultado dessas comprar a menos é que a inflação também sobe menos. Assim, o governo atinge seu objetivo (clique aqui e veja uma explicação detalhada sobre essa política)

O problema é que essa tal de taxa selic é que serve de referência pra boa parte dos fundos de investimento DI e renda fixa, reduto de grandes investidores. Se essa taxa selic cai muito até nos ajuda, pois teremos mais dinheiro disponível e a um juro menor, porém o ganho pra quem aplica nesses fundos não fica mais tão atrativo, podendo render menos até do que a poupança. Além disso, outras aplicações em renda fixa, que tem como referência essa taxa selic, começam também a ficar ruins, como os CDB's - lembrando que o dinheiro depositado neles é destinado pelos bancos ao financiamento do consumo, investimentos empresariais etco. Assim, a queda na selic em 2012 acabou afastando muitos grandes investidores dessas aplicações e, por consequência, jogando muito dinheiro pra dentro da caderneta de poupança. E qual o problema nisso? Na verdade temos 4 deles:

O primeiro é que o dinheiro que depositamos na caderneta de poupança é obrigatoriamente emprestado, em sua maior parte (65%), para o setor imobiliário (financiamento de casas, apartamentos etc). Com isso, os depósitos em massa na caderneta fizeram com que sobrasse uma quantidade também exagerada de recursos pra esse setor e, menos para os outros. 

O segundo é que o diheiro aplicado nos fundos DI e renda fixa é emprestado ao governo para fins de política monetária. Isto é, o governo eleva a taxa selic, atraindo o dinheiro dos bancos, que com menos dinheiro encarecem o juro para nós consumidores, com juros maiores compramos menos, assim a inflação fica sobre controle. Já que os investidores sairam do fundo DI e foram pra poupança o governo perderia um pouco do controle sobre esse dinheiro que tira dos bancos pois ele entraria em circulação e poderia afetar, pra cima, a inflação.

O terceiro funciona da seguinte forma. Imagine que eu devo a um banco uma quantia. E que só consiga pagar os juros dessa quantia todo mês. Nesse caso preciso renegociar todo mês com o banco o total da minha dívida - e rezo para que ele não a cobre de uma vez só. Ou seja, o banco aplicou dinheiro em mim enquanto pessoa física, me emprestou dinheiro, e recebe todo mês um juro por isso, sabendo que eu não tenho como pagar o total da dívida. Assim, ele vive só dos juros que eu pago, o que não é lá muito ruim, já que os juros são altos. Agora imaginem que eu seja o governo, e que os bancos vivam dos juros do dinheiro que me emprestam e que, de repente, eu pague por decisão própria menos juros a esses bancos (taxa selic menor). O interessante pra eles é parar de me emprestar e emprestar pra outros, ou aplicar em outro lugar, poupança por exemplo. A partir daí o governo fica sem acesso ao dinheiro dos bancos pois estes exigem que ele pague toda a dívida pois é melhor colocar esse dinheiro na poupança. Se todos os bancos exigem isso e o governo, obviamente, não tem esse dinheiro na mão a situação se complica. É o que se diz no mercado, e o fiz de forma bem simplificada, que o o governo tem dificuldade de rolar a divida interna. Em linhas gerais, não só não tem crédito novo pra ele, como fica todo mundo querendo que ele pague a dívida que foi feita no passado - dinheiro que ele não tem!

 O quarto é que, como citei, outros investimentos que tem como referência a taxa selic, os CDB's, por exemplo, e que financiam o nosso consumo e o investimento das empresas, também ficariam menos atrativos resultando em menos empréstimos disponíveis. 

Diante desses 4 problemas o governo optou então por mudar a regra da poupança, com o objetivo especifico de afastar esses grandes investidores e mantê-los nas suas aplicações originais. Definiram que quando a taxa selic ficasse abaixo de 8,5% os novos depósitos na caderneta renderiam não mais os 0,5% ao mês mais a TR, mas 70% da taxa selic. Mas, por que exatamente 8,5%? Porque com a selic nesse patamar as outras aplicações renderiam 8,5%, que ainda é superior à poupança, mas se retirarmos delas o IR e outras taxas que os bancos cobram, o rendimento seria inferior ao conseguido na poupança. Nesse caso, toda vez que chega em 8,% haveria uma tendencia natural de todos migrarem pra caderneta. Só que, com a nova regra, ao depositar na caderneta com essa selic em 8,5% ele cairia na nova regra, ou seja, receberia apenas 70% desses 8,5%, o que resulta em um ganho de 5,95% ao ano, bem inferior aos 6,3% da poupança. Para o investidor não valeria a pena entrar na poupança. Da mesma forma, se a taxa selic sobe e fica acima de 8,55% essa esquema não precisa ser utilizado já que os investidores, naturalmente, buscariam novas aplicações uma vez que ganhando 9%, por exemplo, e retirando o IR e taxas ele teria uma ganho, em tese, melhor do que a poupança. Então, quando a taxa selic passa de 8,5% essa nova regra perde o sentido e tudo volta a funcionar na velha regra. 

Resumindo: se faço um deposito hoje na poupança o meu rendimento vai depender de quanto estiver a taxa selic. Se ela estiver de 8,5% pra baixo receberei 70% dela, se estiver de 8,75% pra cima recebo os 6,3% no ano nos moldes da poupança antiga. Ou seja, o esquema da poupança antiga só morre quando a selic ficar abaixo dos 8,5% - lembrando que quem tinha conta na poupança antes de maio de 2012 não está nem um pouco preocupado com isso pois receberá sua remuneração sempre pela regra vela. Segue a seguir uma tabela com o rendimento da poupança com taxa selic abaixo disso.  

tx selic 70% da selic % no mês
regra 'velha' 8,75% 6,170% 0,50%
regra nova 8,50% 5,950% 0,496%
regra nova 8,25% 5,775% 0,481%
regra nova 8,00% 5,600% 0,467%
regra nova 7,75% 5,425% 0,452%
regra nova 7,50% 5,250% 0,438%
regra nova 7,25% 5,075% 0,423%
regra nova 7,00% 4,900% 0,408%
regra nova 6,75% 4,725% 0,394%
regra nova 6,50% 4,550% 0,379%
regra nova 6,25% 4,375% 0,365%
regra nova 6,00% 4,200% 0,350%
regra nova 5,75% 4,025% 0,335%
regra nova 5,50% 3,850% 0,321%

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