¬ Brincando de Tio Patinhas

Se você é como eu, não nasceu em berço de ouro, quiçá um de prata, a vida precisa de alguns números, continhas. Há muita badalação sobre como enriquecer, como fazer fortuna na bolsa, o primeiro milhão, etc. São muitos livros e reportagens tratando do tema. E também muito equívoco sobre o assunto. A coisa não é tão milagrosa quanto parece, apesar de ser possível com um pouco de adestramento financeiro.

O erro mais comum que se incorre é não saber trabalhar com a inflação ao longo do tempo. Assim não percebemos que virar um milionário pode não ser algo tão complicado, mas também não muito simples. A conta que geralmente fazem do primeiro milhão não considera os efeitos da inflação (elevação nos preços) ao longo dos anos. Ou seja, 1 milhão hoje me permite comprar uma cobertura em um bairro nobre, por exemplo. Todavia, se eu juntar esse milhão ao longo de 30 anos, quando chegar lá a cobertura poderá custar 3 milhões. Isto porque a inflação fez os preços de tudo, inclusive imóveis, subir. Ou seja, ter 1 milhão daqui a 30 anos pode não valer muita coisa, já que o preço de tudo se elevou. O esforço para ter os 3 milhões passa a ser, então, mais árduo, uma vez que preciso acumular poupança pensando na inflação que corrói o meu dinheiro ao longo do tempo.

Montei uma planilha simples para que possamos fazer uma simulação. Entretanto, antes da simulação quero fazer algumas considerações sobre investimentos. Tomem muito cuidado com os gurus financeiros. Eles aparecem nos estados ministrando cursos e se gabando de terem feito fortuna. Vocês já viram um garimpeiro achar um veio de ouro e sair divulgando mundo afora pra dividir seus ganhos? Ninguém dá o mapa da mina. Nunca vi o Soros ou o Buffet ministrando cursos de como fazer fortuna. Segundo, se o sujeito fez fortuna com a bolsa ou investindo, está fazendo o que em pleno sábado e domingo dando curso pra ganhar uns trocados? Só trabalha fim de semana quem precisa de dinheiro, ou animador de auditório, que por sinal, faz fortuna com isso.

Também não confie nas dicas dos gerentes de banco. Eles costumam falar sobre o que não entendem e no fundo são apenas funcionários com metas a cumprir. Por isso nos empurram pra bolsa, fundo DI, etc etc, nem sempre o melhor negócio pra você. O risco é seu, o lucro dele. Por quê? Porque comprando ou vendendo qualquer ativo, esteja ele em baixa ou em alta, ele te cobrará uma corretagem. E se a dica do gerente não for boa, sem problema! Como você, e nem ele, entendem do mercado, é só colocar a culpa na crise, dizer que o momento não está bom etc. Mas a corretagem já estará no bolso do chefe dele.

Feitas essas duas considerações lembremos ainda que todo investimento depende de 4 variáveis: (1) o prazo no qual está disposto a deixar o dinheiro “parado” e rendendo. Quanto maior o prazo maior o efeito do juro cumulativo, assim, maior a poupança lá na frente; (2) a disponibilidade mensal para aplicação, isto  é, quanto você está disposto, e quanto pode, dispor da renda mensal para fazer aplicações; (3) a inflação no período, pois dinheiro parado é corroído pela inflação; (4) o juro da aplicação, ou seja, o quanto você terá de remuneração pela aplicação que deve, obrigatoriamente, ser superior ao percentual da inflação no mesmo período, do contrário não terá ganhos reais, perderá dinheiro. Este 4º tópico é extremamente importante, pois o rendimento que conseguirá, acima da inflação, dependerá do seu perfil – se você está disposto a correr maiores riscos poderá ter melhores rendimentos melhorando sua poupança futura, mas também grandes prejuízos, comprometendo sua renda na aposentadoria. Se for um investidor moderado ganhará menos, mas se estressará menos.

Colocadas estas considerações, vamos brincar de Tio Patinhas!

A partir de uma planilha no Excel fiz uma simulação. Imaginemos que um jovem poupe, desde os seus 22 anos, R$100,00 por mês e os coloque na poupança. Ela rende hoje 0,7% ao mês, aproximadamente. Quanto ele teria ao final dos seus 60 anos? Exatos R$329 mil reais. Correto? Não! Esse é o cálculo comum que se faz e está equivocado. Como esse dinheiro ficou parado por quase 40 anos a inflação o consumiu, em parte. Considerando uma inflação mensal de aproximadamente 0,3% ao mês, e se a abatermos daquele ganho (nominal) de 0,7%, temos um ganho real mensal (descontada a inflação) de apenas 0,4%, o patrimônio real acumulado (sem inflação) sairia de R$329 mil para R$129 mil.


Os valores utilizados aqui são da caderneta de poupança, que é um juro garantido pelo governo. Logo, quando dizem que a poupança paga 6% ao ano é quase uma garantia de que ela te restitui o valor que foi depositado corrigido pela inflação (0,3%) mais um adicional acima dessa inflação (0,4%), que é o ganho real. Não é sempre assim porque a inflação oscila sempre, e se for muito alta o ganho real da poupança fica muito pequeno. De qualquer forma o exemplo serve como simulação do comportamento do dinheiro ao longo do tempo - se for um pouco curioso(a) coloque o dinheiro gasto mensalmente com as cervejas e noitadas e veja quanto ele daria ao longo de 30 ou 40 anos com o juro da poupança.

Façamos uma outra simulação para ver como o juro sobre juro pode fazer milagres.

Imaginemos agora os mesmos R$100,00 mensais desde os 22 anos, mas com um rendimento, por exemplo, aplicando em títulos públicos, de 1,3% ao mês. Descontando a inflação mensal temos um ganho real de 1,0%. Pra quanto foi o patrimônio real acumulado (sem inflação)? Impressionantes R$2,77 milhões. Isso mesmo, DOIS milhões setecentos e setenta mil reais, mas "apenas" 924 mil em termos reais. O que daria uma retirada mensal de aproximadamente 9 mil, já sem a inflação, para o mesmo juro real de 1% ao mês. Óbvio que um rendimento de 1,3% não é coisa fácil de se conseguir, e correr atrás dele passa a ser imprescindível. Ora em CDB's, ora em fundos DI e até ações e outros ativos mais voláteis (alguns deles já comentei nas lições de economia, principalmente naquelas sobre política monetária).

Concluindo, quer ser um milionário? Basta fazer uma planilha no excel e perceberá que se começar aos 25 anos depositando R$400 na poupança (e isso não é impossível) terá, com 60 anos, 1 milhão. Será, todavia, um milionário aparente, pois não tiramos daí o efeito da inflação. Com esse milhão aos 60 anos comprará apenas o equivalente a R$434 mil reais, que é o acumulado real. Ser milionário é, portanto, um pouquinho mais difícil do que mostram as revistas e jornais. De qualquer forma, você não precisa chegar a 1 milhão pra ter uma velhice feliz. No caso anterior, mesmo tendo R$434 mil você teria um rendimento mensal de R$1.740. Se você vive bem com isso, ótimo!

Então, brinque com sua planilha e divirta-se!

4 comentários:

  1. FONSECA12/11/2010

    Tenho na poupança R$ 50 mil, mas acho que a rentabilidade de 2010 não foi muito atrativa.
    Sou de perfil conservador/moderado e gostaria de diversificar minha aplicação em torno de R$ 40mil, deixando R$ 10 mil na poupança.
    Assim, gostaria de um conselho para qual outro investimento deveria destinar os R$ 40 mil em 2010.
    Grato.
    No aguardo.

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  2. kantega12/19/2010

    Oi Fonseca, dos poucos investimentos que acompanhei na verdade a rentabilidade de quase nada foi boa esse ano. Os fundos menos arriscados renderam pouco acima da inflação pra quem tinha algo em torno de 40 mil. A poupança ganhou em pouco do IPCA tb, e a bolsa vai fechar o ano no vermelho ou zerada. Ou seja, não teria muito pra onde correr. Com esse valor que está falando n tem muito pra onde ir. Não vai conseguir muito do CDI em um CDB, e não sabemos a tendência da selic, que é o que remunera boa parte dos investimentos, com o novo governo. Com esse valor vale a pena deixar parado mais de um ano e conseguir, ao menos, a redução do IR em um CDB. Ou, se entende um pouco de economia, pesquisar no tesouro direto pra ver se tem algo que te agrade em termos de rendimento lá.

    Ou seja, pro ano que vem é melhor esperar uns meses, mas no seu caso tem q ser renda fixa mesmo. Se não tiver muita certeza, deixe na poupança por mais um ano até o montante crescer, aí já pode negociar um aumento no CDI se for pra um CDB, por exemplo. Sua economia, em termos de investimento, é relativamente pequena, o que não te permite diversificar muito. ok?

    abs

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  3. Olá kantega, eu não entendi a parte de resgate desta parte abaixo, ... eu tenho que sacar da poupança e depois depositar novamente??????


    "De posse desse dinheiro acumulado ao longo da vida o poupador poderia fazer resgates mensais, descontando também a inflação, de R$517. Retirando esse valor eu garanto que o que está aplicado não seja consumido pela inflação. Ou seja, primeiro deixo que o o valor total (R$329 mil) seja reajustado pela inflação (0,3%) e saco o que der acima disso, os R$517."

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  4. kantega3/18/2011

    Não, na verdade se o rendimento der 1% vc deixa na poupança 0,3% que é a inflação, e saca 0,7%, por exemplo. Seriam os $517. Assim, vc só retira o ganho real, e o que fica depositado será sempre reajustado pela inflaçao. Dessa forma protege o seu dinheiro.

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