¬ Lição de economia nº2: O tal do PIB



1 - O PIB

Comecemos a tratar o assunto desmistificando o que surge geralmente nas rodas de boteco, lugar não muito apropriado para embates econômicos, que é aquela ideia consensual de que o que o que mais atrapalha o Brasil é o dinheiro que se perde com a corrupção. Se você não está disposto a aceitar que isso é um relativo equívoco não conseguirá compreender a economia.  A discussão é bem mais aprofundada e demanda um bocado de tempo e raciocínio, às vezes bem abstrato. Mais à frente, lição nº10, discutirei especificamente esse assunto, corrupção. Por enquanto, basta pensarmos que se ela fosse entrave ao crescimento a China seria, talvez, a vigésima economia do mundo, e não a segunda. Tratemos do verdadeiro problema enfrentado pelos presidentes e seus  "colaboradores" (palavrinha da moda), os ministros de Estado. A preocupação deles, principalmente os da área econômica, é fazer a economia crescer (PIB), e gerar emprego, sem que esse crescimento também traga junto um efeito negativo, a inflação. E guardem bem essas duas identidades elementares em economia:


crescimento sem inflação = + emprego = + voto

crescimento com inflação = + medo      = - voto

Temos então um problema; como crescer sem gerar inflação? Mas por que crescer (PIB) pode gerar inflação? Em linhas gerais, crescimento do PIB significa maior volume de venda das empresas comparado ao ano, ou mês, anterior. Essas vendas vem, em grande parte, do nosso consumo (famílias). A questão é que quando resolvemos consumir (comprar), por exemplo porque o salário subiu, tomamos essa decisão de forma rápida. Já as empresas não conseguem oferecer seus produtos de forma tão imediata, pois precisam adquirir matérias primas, contratar e treinar funcionários, comprar máquinas etc. Ou seja, temos um problema no curto prazo (alguns meses), pois há muita gente com dinheiro na mão querendo comprar, e pouco produto disponível pelos empresários para ser vendido (muitas empresas trabalham com um pequeno nível de estoques, mas não duram muito tempo). Essa falta de produtos acaba forçando os preços pra cima, já que eu aceito pagar mais caro pra comprar na frente do outro cliente, sabendo que posso ter que esperar semanas, ou meses, pra conseguir o produto.

Quando isso acontece, muito consumo das famílias e pouco produto disponível, dizemos que há uma inflação de consumo, ou de demanda. Ou seja, essa elevação nos preços é ocasionada pelo excesso de consumo das famílias. Assim, por um lado, esse grande consumo ajuda as empresas a produzirem mais, gerarem mais empregos, fazendo a economia crescer, o lado bom. Por outro lado,  se excessivo, pode também gerar inflação, elevação nos preços. Ou seja, voltamos ao assunto de hoje: como estimular o consumo, e fazer a economia crescer, sem gerar inflação (de consumo)? Essa é a maior dificuldade encontrada pelos economistas, tentar crescer o máximo (PIB), gerando empregos (e votos, obviamente), com o mínimo de inflação. Equacionar isso é a sua maior dificuldade.

Para entender essa dificuldade, e quais as ferramentas de que dispõe o governo para resolvê-la, precisamos estudar, separadamente, e detalhadamente, esses dois elementos: PIB e inflação. Inicialmente, tratemos do primeiro.

Muito se fala sobre o PIB, são vários dados e projeções ao longo do ano, presidentes são criticados quando os números veem abaixo do esperado etc etc. Mas, será que ele é a única forma de medir a evolução de um país? A bem da verdade, não!! Temos um outro denominado IDH, que veremos no fim do artigo. O PIB é a riqueza produzida no país, em termos monetários, isto é, em quantidade de dinheiro. Já o IDH é uma alternativa, elaborada pela ONU, para medir como a riqueza de uma economia (PIB) é distribuída entre os seus indivíduos. Vamos ao PIB.

O PIB pode ser medido de 3 formas: a) pela ótica do produto ao somarmos todos os valores dos produtos e serviços multiplicados pelos seus respectivos preços nos 3 setores da economia (primário, secundário e terciário); b) pelos gastos realizados pelos agentes que atuam na economia (famílias, empresas e governo) na compra desses produtos; c) por todas a rendas auferidas pelos agentes na economia e que foram pagas pelos empresas (o empreendedor ganha lucro; o banco recebe juro; os acionistas, dividendos; as famílias, salários; os detentores de imóveis aluguéis etc). 

PIB (Produto Interno Bruto), em linhas gerais, é a riqueza produzida por um país em determinado período, geralmente em trimestres, com um fechamento no fim do ano. Imaginemos que a riqueza produzida por um país seja de R$1.000 (a do Brasil, em 2013, por exemplo, foi de quase 5 trilhões de reais). Esse valor nada mais é que a quantidade de geladeiras, fogões, alimentos, computadores, carros, serviços diversos etc, multiplicados pelos seus respectivos preços. Podemos, então, tentar compreender a mensuração do PIB da forma que, a meu ver, é mais interessante pro nosso propósito, a ótica dos gastos. A questão, então, é: quem gastou dinheiro, comprou, essas mercadorias no valor de R$1.000? Identificamos 4 agentes que adquiriram essas mercadorias e serviços: famílias, empresas (investimentos), governo (gastos públicos) e estrangeiros (exportações). Ou seja,

PIB = Consumo + Investimentos + Gastos públicos + Exportações

No entanto, a fórmula não está completa, pois temos que contemplar o dinheiro que é utilizado não pra comprar mercadorias aqui, mas o que sai para comprar mercadorias no exterior. Ou seja, isso diminui o nosso PIB e incrementa o PIB de outros países. O nome disso é importação. Assim, a fórmula completa fica:

                             PIB = C + I + G + Exp - Imp

C (consumo) - consumo, ou demanda, das famílias

I (investimentos) - consumo, ou demanda, das empresas, que vem de outras empresas. Também chamado de FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO, que mostra o quanto as empresas aumentaram seus bens de capital (máquinas, equipamentos e instalações).

G (gasto público) - consumo, ou demanda, do governo

Exp (exportações) - consumo, ou demanda, feitos pelos estrangeiros (chineses, americanos ...) de produtos brasileiros. Compras feitas em dólares, mas convertidas em reais para o cálculo do PIB.

Imp (importações) - consumo, ou demanda, feito por brasileiros (famílias e empresas) de produtos estrangeiros. Compras feitas em dólares, mas convertidas em reais para o cálculo.


1.1 - Variações nos elementos que compõem o PIB

Pois bem, voltemos ao exemplo dado anteriormente. Vamos supor que a compra dos R$1.000 que citamos esteja assim distribuída:

PIB (R$1.000) = C ($600) + I ($150) + G ($150) + Exp ($300) - Imp ($200)

Notem que é como se o IBGE entrevistasse os proprietários dessas empresas com a seguinte pergunta: "quem comprou mercadorias de vocês?". As respostas possíveis seriam, na média: pessoas físicas (famílias, com $600), outras empresas (investimentos, com $150), o governo (gastos públicos, com $150), alguns estrangeiros (exportações, com $300). Eles ainda responderiam que uma parte do dinheiro saiu do seu caixa pois tiveram que importar mercadorias (dos EUA, China etc, com $200).

A demonstração do PIB por esse esquema é importante por mostrar que as famílias gastam, compram, 60% da riqueza nacional, ou seja, 60% das mercadorias produzidas pelas empresas - e esse dado das famílias é real (a tabela abaixo mostra todos os outros valores reais). Da mesma forma, notamos que os Investimentos, nessa simulação, representam 15%, os gatos públicos também 15%, as exportações 30% e as importações 20% do PIB.

Imaginemos agora que o PIB tenha crescido para R$1.100, $100 reais a mais de mercadorias produzidas ao longo do ano, com a seguinte distribuição:

PIB (R$1.100) = C ($700) + I ($150) + G ($150) + Exp ($300) - Imp ($200)

O consumo das famílias cresceu no período e representa agora 63,6% (700/1.100). Já os Investimentos foram para 13,6%, os Gastos Públicos 13,6%, Exportações 27,2% e as Importações para, aproximadamente, 18%. Como o PIB cresceu, exclusivamente por causa da elevação de $100 no consumo das famílias, os demais componentes acabam por representar menos no novo PIB.

Por outro lado, se todos os elementos que compõem o PIB crescerem na mesma proporção (10%) teríamos uma elevação deste sem que a participação dos seus componentes se altere, isto é, o crescimento continuaria de $100, mas distribuído entre os diversos componentes. Usando o exemplo abaixo vemos que as participações continuam as mesmas (60%, 15%, 15%, 30% e 20%), com o mesmo crescimento de $100. 

PIB (R$1.100) = C ($660) + I ($165) + G ($165) + Exp ($330) - Imp ($220)

Isso nos permite concluir também que mesmo que o consumo em reais cresça, a sua participação no PIB pode diminuir, uma vez que o crescimento, e a participação nos demais elementos, pode ter sido maior. Ou seja, a simples elevação, ou queda em reais, de um dos elementos não nos permite concluir muito sobre a sua participação no PIB, se maior ou menor. Isso dependerá do comportamento dos demais componentes.

Geralmente não vemos estes dados na TV ou nos jornais não especializados, eles mostram apenas o quanto a economia cresceu, ou seja, a comparação dos dois PIBs. De R$1.000 para R$1.100 houve um crescimento de 10% no período e, neste caso, unicamente em função do consumo maior das famílias.

Pelo raciocínio acima percebemos que se o governo quiser estimular o PIB precisa atuar sobre o maior componente dele, o consumo. Porém, por que isso não tem surtido o efeito desejado no Brasil, ou tem apenas conseguido um fôlego momentâneo? Por que, como vimos esse estímulo traz junto a inflação, mesmo que ele seja pequeno. E a resposta pra esse estímulo ao consumo resultar, rápido, em inflação é, dentre outros fatores, a péssima estrutura que possuímos para escoar mercadorias e a baixa produtividade do trabalhador brasileiro, como vemos abaixo. Ou seja, com consumidor, mas sem infraestrutura, a inflação surge. O governo se vê forçado, então, a retirar o estímulo dado aos consumidores e com isso desaquecer a economia (PIB).

1.2 - Entraves ao crescimento

Infraestrutura
A conclusão mais importante do nosso raciocínio é que o consumo representa, historicamente, 60% do PIB no Brasil - nos EUA isso chega a 70%, como já citei. Isso é relevante pois significa que se o governo quiser uma elevação consistente sobre o PIB , para expandir a economia e gerar mais empregos, deve ajudar o consumo das famílias, ou seja, facilitar as compras (como ele pode fazer isso veremos mais tarde). Olhando o exemplo chinês notamos que o motor da economia não é o consumo, que representa só 35%, mas os investimentos (50%). Voltando ao caso Brasileiro, os investimentos (I) não passam de 18% do PIB. Talvez isso explique a nossa posição na logística mundial (65º pelo ranking do Banco Mundial) - o relatório Global de competitividade do Fórum Econômico Mundial colocava o Brasil (2013) na 114º posição com relação à qualidade geral da infraestrutura. As posições da Alemanha (peso de 60% do consumo) e EUA não são muito diferentes do Brasil no tocante aos investimentos: 17% e 19%; todavia, o grande investimento em infraestrutura no passado não faz com que ela seja um problema nestes dois países hoje. A China já pensa, inclusive, em mudar o modelo de crescimento, tirando o foco no investimento (50%) e centrando mais no consumo, como mostra o artigo.

NOTA: o total gasto com infraestrutura não é o componente I (investimento) do PIB. Na verdade, esse gasto nem aparece de forma explícita na conta. O que sabemos é que, no Brasil, isso gira em torno de 2% do PIB (incluídos aqui os gastos do governo, a maior parte, e os do setor privado). A título de comparação, só com infraestrutura os gastos na China passam de 12% do PIB.

A produtividade
Um outro fator que dificulta o crescimento no Brasil é a baixa produtividade (um trabalhador americano produz em 1 dia o que o brasileiro leva 6 pra produzir). Temos 4 fatores básicos que afetam a produtividade: burocracia, tecnologia, educação e mobilidade urbana (esta última claramente um problema de infraestrutura). Entre 122 países pesquisados nossa posição é 81º com relação à produtividade.

Para entender melhor como esses 4 fatores afetam a produtividade vejam a reportagem do Jornal nacional exibida em 2014.

Estes dois elementos (infraestrutura e produtividade) ajudam a entender aquele nosso problema da lição anterior, qual seja, o de que quando o consumo cresce pode gerar inflação. Como as famílias compram 60% das mercadorias, se esse consumo for exagerado a economia até cresce, mas podem faltar produtos e com isso subirem os preços. Chamamos essa inflação de inflação de consumo. O problema é que a inflação não tem como origem apenas no nosso consumo exagerado. Há outras fontes que precisamos mapear, que é o assunto do próximo texto.


1.3 - Considerações importantes sobre o PIB

a) Recessão técnica
Nos períodos de crise surge um nome comum quando se discute o PIB: recessão técnica. O que a caracteriza é a queda no PIB (PIB negativo) por 2 trimestres consecutivos.

b) PIB e PNB
Há uma diferença entre PIB e PNB. PIB mostra toda a riqueza produzida dentro das fronteiras de um país, independente da origem da empresa, se estrangeira ou brasileira. Isto é, não são computadas as receitas vindas de fora ou as remetidas para o exterior pelas multinacionais. Já o PNB (produto nacional bruto) mostra o que é produzido no Brasil, por exemplo, mais o que é produzido pelas multinacionais brasileiras fora do Brasil, importando aqui os lucros que entram e saem do país. Ou seja, PNB = PIB + renda (lucro) recebida do exterior (de empresas brasileiras) - renda (lucro) enviada ao exterior pelas empresas estrangeiras. Concluímos que no Brasil o PIB é maior que o PNB, porque se somarmos tudo produzido aqui dentro, inclusive pelas multinacionais (imaginemos que ele seja de R$10). Porém, quando pegamos o que é estritamente produzido por empresas brasileiras aqui e lá fora (via lucros remetidos pro Brasil), isto é o PNB, concluímos que temos que retirar o impacto bem maior dos lucros remetidos pelas multinacionais que aqui estão para os seus países de origem. Ou seja, a renda enviada ao exterior por elas é bem maior do que o que temos a receber das multinacionais brasileiras no exterior. (renda enviada ao exterior > renda recebida). Continuando o exemplo, PNB = $10 + renda recebida ($2)  - renda enviada (-4). Temos, então, um PIB = $10, mas PNB = R$8 (10 + 2 - 8). Enquanto nós utilizamos o conceito de PIB os EUA utilizam mais o PNB, já que em função da grande quantidade de multinacionais, o PNB (valor produzido por todas as empresas americanas, inclusive as que estão fora do país) é maior que o PIB (valor produzido somente pelas que estão dentro da fronteira).Por isso o PNB é o produto NACIONAL (só o que for produzido dentro das ffronteiras, isto é, estritamente nacional) bruto, ao passo que o PIB é o produto INTERNO (não interessa a nacionalidade) bruto.

c) Os 3 setores no Brasil
Como vimos anteriormente o PIB também pode ser medido pela ótica da produção, ou seja, a partir da soma de todos os bens produzidos pelos 3 setores da economia (primário, secundário e terciário). No Brasil, os 3 setores tem o seguinte peso no nosso PIB: setor primário ou agronegócio (6,5%) + setor secundário ou Indústria (25,8%) + setor terciário ou serviços (67,7%). A título de comparação, na China temos 11%, 48,6% e 40,5%, respectivamente. Na Alemanha 0,8%, 30% e 69%.

* setor primário: agricultura, pecuária e extração vegetal
* setor secundário: indústria extrativa mineral, indústria de transformação (de alimentos, metalurgia, mobiliária, química, tecelagem, vestuário, calçados, materiais elétricos, plásticos, bebidas, fumo ...); de construção (obras públicas e privadas) 
* setor terciário: comércio atacadista e varejista; transportes; telecomunicações; bancos/seguradoras; corretoras e bolsas de valores; comércio imobiliário; hospedagem e alimentação (hotéis, bares...); serviços pessoais (barbeiros ...); manutenção de máquinas e veículos; planos de saúde, escolas etc.

d) PIB real e PIB nominal
Essas duas expressões podem aparecer, mas não com muita frequência na mídia. Como o PIB é medido em preços, em reais, é normal que, com a elevação nestes preços, inflação, o PIB cresça quase na mesma proporção. Esse PIB, com efeito da inflação, é denominado PIB nominal. Se quisermos saber o quanto a economia cresceu, apenas em quantidades de mercadorias produzidas, podemos excluir esse efeito da inflação e achar o PIB real. Pra isso é utilizado um deflator, que pode ser um índice de inflação. Ou seja,  se a economia crescer 1 trilhão de reais (PIB nominal), ao longo do ano, por exemplo, como isso é medido pelas mercadorias produzidas multiplicadas pelos seus respectivos preços, uma parte desse trilhão foi apenas elevação dos preços (efeito da inflação). Se a retirarmos chegamos em um PIB real inferior.

Exemplo:

PIB ano x = $100 ( 10 un. x $10\un)
PIB ano y = $120 (10 un. x $12\un)

Notamos acima que houve um crescimento de 20% do ano x pro ano y. No entanto, foi um crescimento apenas nos preços dos produtos, não nas suas quantidades. Essa elevação no PIB nominal de 20%, quando deflacionado, retirando a inflação, nos dá um PIB Real nulo (0%). Ou seja, essa economia não produziu nada a mais de um ano pro outro, o incremento no PIB foi apenas em função dos $2,00 a mais de elevação nos preços.

Da mesma forma, é como se, ao entrevistar o empresário para saber pra quem ele vendeu (governo, famílias, empresas etc), ele respondesse que vendeu aqueles $100 a mais, porém não em novas mercadorias (PIB real nulo). Vendeu a mesma quantidade do ano anterior, só que mais caro. Nesse caso teríamos um crescimento no PIB nominal de 10%, fruto da inflação. No exemplo acima não fizemos essa suposição, pois ainda não nos interessava a diferença entre PIB real e Nominal.

e) O conceito de demanda agregada
Quando somamos C + I + G + Exp temos a demanda agregada (demanda de todos os agentes). A importação (Imp) não faz parte da demanda agregada no Brasil (constituí, na verdade, uma oferta vinda de fora), pois é uma demanda nossa no exterior, ou seja, faz parte da demanda agregada de outros países, assim como as nossas exportações fazem parte da nossa demanda agregada. Podemos concluir, a partir disso que a oferta agregada no Brasil é composta não só pela produção nacional mas também por esses produtos importados.

Notem também que quando inserimos essas importações na fórmula, estes dois últimos elementos da equação mostram nossa relação comercial com o exterior (outros países) e a diferença entre ambos (Exp - Imp), em dólares, é denominada Balança Comercial, nome muito comum nos noticiários do dia-a-dia. Cuidado com essa equação, pois o fato de as Importações entrarem negativamente na fórmula não implica que sejam ruins. Toda economia importa, ninguém é autossuficiente. A questão é tentar exportar mais do que importar para que as exportações tenham um efeito pequeno, ou grande, no PIB. Se isso não for possível, ou seja, se as importações forem maiores que as exportações ainda assim não é desastroso. Basta estimular os outros elementos positivos para que o PIB fique aquecido. Os EUA são um exemplo clássico. Tem um forte estímulo do governo para o consumo, que representa aproximadamente 70% do PIB. Tanto consumo leva, inevitavelmente, à inflação, pois a indústria nacional não daria conta de produzir tanto. O resultado é elevar a oferta agregada, ou seja, buscar produtos lá fora, importar. Por isso o saldo comercial deles é tão negativo (importações > exportações). Resumindo, as importações são também um elemento importante para combater a inflação que vem do excesso de consumo. 

2 - CRESCIMENTO X DESENVOLVIMENTO

Cuidado com estas duas palavras, pois não são sinônimas. São, a bem da verdade, quase antônimas. O crescimento econômico, calculado pelo IBGE, é uma medida, monetária, que mostra o quanto uma economia cresceu em um período, ou seja, em quanto a riqueza se elevou, em reais. No nosso exemplo acima o crescimento econômico foi de $100, ou 10%. 

O desenvolvimento econômico mostra como essa riqueza de R$100 foi distribuída entre as classes sociais. Esse índice, que varia entre 0 e 1, é calculado por um órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) chamado PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). O índice recebe o nome de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e é mensurado a partir de 3 variáveis: expectativa de vida, escolaridade, e renda per capita (PIB por cabeça). Notamos, então, que o crescimento econômico é apenas um dos componentes utilizados para o cálculo do IDH. Mas, variáveis como expectativa de vida (muito influenciada por saneamento básico e acesso à saúde pública) e escolaridade, efetivamente, nos mostram se a riqueza gerada chegou às classes mais baixas.

A classificação do IDH é divulgada dentro de um relatório do PNUD Brasil, denominado de Relatório de Desenvolvimento Humano. Não trata só do IDH, mas também de um assunto diferente a cada ano. Em 2006, o tema foi: 'Além da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água'. Em 2007/2008: 'Combater a mudança do clima: Solidariedade Humana em um mundo dividido'. É um relatório muito extenso (aproximadamente 400 páginas), mas vale a leitura por ser bem fundamentado e rico em informações.

Portanto, ser um país grande não significa ser um país justo. No caso do Brasil, apesar de estarmos entre as 10 maiores economias do mundo, em termos de riqueza gerada (PIB), não ficamos sequer entre os 65 primeiros quando o assunto é desenvolvimento econômico, ou humano, medido pelo IDH.








9 comentários:

  1. Lendo,lendo e lendo...uma hora entra na cabeça!Como vc msm disse hj, tem que entrar né?!
    Parabéns pelo blog prof.
    =)

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  2. Izabela11/09/2009

    Achei o site por acaso e achei muito interessante a abordagem ao tema, muito claro.Parabéns!

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  3. Rosana Midori2/21/2010

    Estou amando!!!!!! Vou multiplicar e muito esse conhecimento!!! Parabéns!! Que bela iniciativa!!! Obrigada, obrigada, obrigada.

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  4. pamela patriota4/14/2010

    Estou vendo que existem pessoas que conseguem mostrar os números da economia com a fidelidade que merecem... Parabéns, fazia tempo que procurava isso...

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  5. Carina Campos8/23/2010

    Show!

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  6. Uma duvida que ficou: Crescimento economico = Crescimento do PIB = quanta riqueza foi gerada em um determinado período? Parece que o conceito de ambos é exatamente o mesmo.

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  7. Tarcísio2/11/2012

    Exato Emanuel, são sinônimos: crescimento no PIB = crescimento econômico = riqueza adicional gerada no ano

    abraços

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  8. Jonathan7/02/2013

    Parabéns! Essas lições estão sendo muito úteis!

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  9. Professor, então pelo o que entendi o PIB e a inflação atuam juntos. Quando há uma grande demanda de consumo de produtos e serviços e o mercado não consegue absorver essas quantidades demandadas, acontece o aumento da inflação. É isso?

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