¬ Lição de economia nº19: Política cambial (Parte 4 – Efeitos positivos e negativos das oscilações no dólar)

Podemos agora mapear os efeitos positivos e negativos mais importantes das valorizações e desvalorizações cambiais excessivas. Eles passam, inevitavelmente, pelas importações e exportações.

  • Valorizações cambiais (por exemplo, de US$1/R$1,80 para US$1/R$1,30)

Efeito negativo - sobre os exportadores: recebem menos reais por cada dólar vendido lá fora. Isso os prejudica, e por tabela, o PIB, já que as exportações representam 20% do PIB, aproximadamente.

Efeito positivo - sobre os importadores: compram o dólar mais barato aqui para remeter para fora do país. Como compram mais barato o preço dos produtos que trazem de fora ou das matérias primas acabam desacelerando, influenciando diretamente o IPA. O efeito seguinte é a desaceleração no IPC-A.


Resumo: valorizações cambias desaceleram a inflação (importados baratos) mas prejudicam as exportações (menor receita, em reais, para os exportadores).

Há uma discussão envolvendo as valorizações que se resume no seguinte: como as exportações representam algo em torno de 20% do PIB no Brasil, hoje, seria interessante deixar que o câmbio se valorizasse significativamente, desde que voluntariamente (o que vem acontecendo) já que apenas uma parte da economia, 20%, seria prejudicada. Assim, os efeitos positivos seriam muito bons, queda na inflação, e os negativos moderados, pois afetariam apenas as exportações. Não concordo muito com essa tese, por 2 motivos: Primeiro, fortes apreciações no câmbio não afetam só exportadores, mas também empresas brasileiras que produzem similares aos produtos importados, muitas das vezes vindo de países como a China. Assim, como o câmbio passa a ser um complicador, soma-se a isso o baixo custo de produção em função dos baixos salários destes países; temos um efeito potencializado que não prejudica apenas 20% do PIB. Segundo, comprometer a renda do exportador hoje pode significar problemas no futuro, uma vez que nos momentos ruins desvalorizações cambiais podem não estimular as exportações. Lembrem-se do fim do Plano Real em 1999 e a famosa frase de FHC: "Agora é exportar ou morrer!". Não havia estimulo, nem confiança, por parte dos exportadores, mesmo com o dólar mais elevado - e "morremos".


  • Desvalorizações cambiais (por exemplo, de US$1/R$2,0 para US$1/R$2,60)

Efeito negativo - sobre os importadores: precisam pagar mais caro pelos produtos importados. Repassarão estes custos adicionais do dólar para os preços. Isso eleva o IPA em um primeiro momento para, em seguida (semanas ou meses), seus efeitos serem sentidos no IPC-A. Ou seja, estamos falando aqui da inflação de custos que vimos na lição 4.

Efeito positivo - sobre os exportadores: recebem mais por cada dólar exportado (no caso R$0,60). Como são favorecidos, vendem mais e aquecem a economia (PIB).


Resumo: desvalorizações cambiais podem prejudicar a inflação (produtos importados mais caros) me favorecem o PIB (exportações).



Outros efeitos

As valorizações cambiais podem ter ainda um outro efeito positivo que é o acúmulo de reservas cambiais. Com a grande sobra de dólares ocasionada pela valorização cambial o governo pode comprar esse excesso de moeda americana e guardar em suas reservas. Lembrando que essas reservas são um importante instrumento de intervenção (direta) no mercado de câmbio. Essas mesmas valorizações favorecem os turistas brasileiros, pois compram dólares mais baratos. Já as desvalorizações prejudicam os turistas brasileiros, mas favorecem os turistas estrangeiros que venham ao Brasil etc.

A conclusão é que não há um câmbio (cotação) de equilíbrio. O que o governo pode fazer é acompanhar valorizações e desvalorizações cambiais identificando os efeitos negativos que possam surgir sobre o PIB e a inflação para aí então utilizar os instrumentos de política cambial: intervenções no mercado de câmbio, com reservas cambiais, ou alterações na taxa selic. Nesse sentido é mais apropriado falar em um intervalo de oscilação do real dentro do qual nenhum efeito negativo mais forte é sentido, e isso vai depender do momento pelo qual passa a economia.

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