¬ Lição de economia nº6: O comportamento dos preços e a microeconomia

Parte 1 - LEI GERAL DA OFERTA E DEMANDA


Vimos na aula sobre inflação que ela pode vir de diversos pontos. Analisamos cada um dos pontos pelo aspecto macro, ou seja, global. Não nos interessava lá o comportamento específico de um ou outro mercado, mas o aspecto macroeconômico. Essa vertente da economia é chamada de Macroeconomia,  ou seja, que estuda todos os mercados em conjunto, buscando mecanismos que controlem as decisões não só dos consumidores de café, carros etc, mas mecanismos que afetem a todos ao mesmo tempo. A partir daí surgem conceitos como política de juros, política cambial, PIB, inflação etc. Agora que já compreendemos o aspecto macro podemos nos aproximar mais da relação individual entre produtores e consumidores (de café, carros etc) e entender como isso funciona, ou seja, fazer uma análise microeconômica.

Há uma lei geral da economia, bastante conhecida (que é uma consideração teórica, nada a ver com legislação em si), chamada lei da oferta e da demanda (já tratamos dessa lei, indiretamente, no nível macroeconômico, quando estudamos inflação de demanda e inflação de choque de oferta). Ela é, geralmente, demonstrada graficamente e o seu objetivo é mostrar como se comportam vendedores e compradores de determinado produto (café, laranjas,, cosméticos etc). Aqui tentaremos entender o comportamento, principalmente, dos consumidores. 

O ponto de encontro entre as duas curvas é o chamado ponto de equilíbrio, um ponto no qual oferta e demanda (vontades dos consumidores e dos produtores) não estão nem acima nem abaixo do esperado, isto é, o preço chegou em um ponto que agrada a ambos. Sendo assim, não há, no momento, nada que o force pra cima nem pra baixo. Essa consideração inicial é feita para um bem normal; ou seja, aquele que reage às variações no aumento, ou queda, na renda (salário) – veremos que alguns bens não são mais vendidos só porque as pessoas estão com mais dinheiro (por isso são chamados de bens inferiores). Vejamos a figura a seguir, lembrando que ela serve para um bem normal:



A curva de demanda (ou procura, ou consumo), mostra o quanto as pessoas consumiriam (eixo x) a cada nível de preço (eixo y). Ela é inclinada pra baixo para mostrar que quando mais os preços sobem menos se está disposto a consumir. Indo  um pouco além. Supondo que esse produto seja a banana maçã, qualquer variável, além dos preços, que afete o crescimento no consumo (aumento nos salários ou elevação no preço do bem substituto: a banana nanica, por exemplo) faria com que esta curva se deslocasse, paralelamente, para a direita. Essa relação é intuitiva,  nem precisaria de um gráfico, pois se temos mais dinheiro compramos mais produtos (maçãs, bananas, café, carros etc). Ou, se o preço da banana nanica sobe utilizaremos o dinheiro  para comprar a banana maçã. Então, notem que queremos comprar mais bananas, porém ao nível P de preço anterior (como as quantidade compradas são maiores o preço por nós desejado para estas quantidades está marcado no gráfico com uma estrela). Porém, é normal que esse aumento brusco no consumo gere uma escassez de oferta de bananas maçã (como para tomates, mamão, café, alface etc etc etc) e elevação nos preços. Isto porque, como já vimos, os produtores, na impossibilidade de oferecer mais produtos no curto prazo (por dificuldades na produção, ou problemas de logística),elevam os seus preços - na verdade, nós aceitamos esse aumento porque agora temos dinheiro na mão e queremos o produto.

Assim, o quantidade negociada no mercado sobe, mas não no nível que os consumidores queriam, exatamente porque a escassez implica um pouco de elevação no preço, que subiu de P para P’ (ele não consegue se manter no nível marcado com uma estrela). E esse aumento implica na desistência de alguns consumidores. Teríamos, então, um novo ponto de equilíbrio, com quantidades negociadas um pouco maiores, só que com preços também maiores (P’), isto é, com um pouco de inflação. Observem que estamos falando aqui exatamente da inflação de consumo das lições anteriores – a bem da verdade, o conceito de inflação é mais abrangente e não depende só do mercado de bananas ou laranjas mas, por hora, torna essa relação micro x macro mais clara. O raciocínio inverso também é possível. Se os salários são diminuídos, bananas sobrariam e os produtores teriam que reduzir o preço para vendê-las. Teríamos um novo ponto de equilíbrio nesse esquema, a preços e quantidades mais baixos.

E o que acontece com a curva de oferta? Vimos que os produtores estão mais dispostos a ofertar seus produtos se os preços sobem, e vice versa. Mas, se formos além dos preços vemos que o seu deslocamento, para direita ou para a esquerda, é fruto de alterações nos custos, problemas climáticos, mudanças tecnológicas etc; isso tende a “jogar” a curva de oferta para direita ou esquerda, paralelamente á curva original.

Vamos a um exemplo onde as duas curvas se movam, incluindo aqui a atuação do governo para conter a elevação nos preços (em linhas gerais, inflação).

Imaginemos que uma exportação excessiva de aço (uma das causas da inflação por choque de oferta, como vimos) tenha comprometido a produção de geladeiras, fogões etc, mas a demanda tenha se mantido constante. A curva de oferta (em vermelho) se deslocaria para a esquerda, fazendo com que o novo ponto de equilíbrio ocorresse a um nível de preços maior, ou seja, inflação por falta de produto (choque de oferta).  Para evitar esse aumento nos preços (inflação), agora em função da pouca oferta, e consumo superior (mesmo que ele não tenha se alterado), o governo precisa tomar uma medida. Imaginemos que ele eleve os juros, (cortar o crédito). Assim, desloca a curva de consumo pra esquerda (em preto), como já visto anteriormente. Já que a oferta se deslocou pra esquerda e a curva de demanda também, os efeitos podem se anular, uma vez que temos menos oferta, mas também menos consumo.

Essa é uma das formas de combater a inflação (como veremos em outras lições), que começa em mercados individuais mas pode se espalhar pra toda a economia. Todavia, esse processo de arrocho do governo para evitar a elevação nos preços, acaba vindo com um custo social elevado, já que se os empresários estão dispostos a ofertam menos uma vez que e as pessoas compram menos. Assim, a produção tende a diminuir (de 200kg pra 100kg) e o PIB idem, elevando também o nível do desemprego.





Entendendo melhor o deslocamento lateral das curvas

Qual a diferença entre o deslocamento ao longo da curva e o próprio deslocamento da curva de demanda? Quando fazermos uma alteração nos preços o ponto de equilíbrio se desloca ao longo da curva de demanda porque ela representa uma faixa de salário (renda), ou seja, ela mostra o máximo que o salário das pessoas pode comprar na medida em que os preços sobem ou descem.

No gráfico abaixo imaginemos o consumo de barras de chocolate. Temos 4 níveis de preços para dois níveis de renda, que se alteram em períodos diferentes. A curva 1 (em vermelho) mostra pessoas com renda de $1.000, a curva 2 (em verde) supõe que a renda tenha se elevado de $2.000 (esses rendimentos maiores podem acontecer por uma elevação nos seus salários ou por linhas de crédito mais baratas, como já vimos). Ao preço de $4 vemos que as pessoas que ganhavam $1.000 estavam dispostas a comprar 200un. de chocolate, ao passo que com o novo salário de $2.000, a quantidade de 500un.

Se os preços subissem para $10, e o salário continuasse em $1.000, elas já não estariam dispostas a comprar nenhuma unidade, ao passo que com a nova renda a disposição para compras seria de um pouco mais de 200 un. Notamos então que na medida em que os preços vão além dos $10 só as pessoas com renda de 2.000 (nova renda) se mostram dispostas a comprar  o produto, porém em quantidades menores. Mas, quem ganhava, ou ainda ganha, $1.000 não pode comprar um bem que custa $10? Sim, pode! A questão é que pra essa faixa de renda esse bem já fica muito caro. Alguns eventualmente comprarão, mas não todos. Por isso a curva de demanda pra cada nível de renda mostra uma disposição para comprar, e não uma compra efetiva, já que não sabemos, de fato, como se comportariam cada um dos indivíduos no exato momento da compra. Observem que o mesmo vale para a queda nos preços. Abaixo de $4, por exemplo $0,50 centavos, os indivíduos da curva vermelha se disporiam a comprar cerca de ‘X’  unidades, e os da curva verde ‘Y’, isto por causa da renda maior.



O mesmo raciocínio se aplica a curva de oferta, que representa uma curva de possibilidade de produção ao longo de determinado período de tempo. Ou seja, pra determinada capacidade ociosa o empresário consegue produzir mais ou menos, de acordo com as oscilações nos preços, ou na renda dos compradores. Se  há uma elevação ou redução nos custos de produção (salários, tecnologia e, principalmente, custo de matéria prima influenciada pelo dólar, como visto na lição 4) a tendência é de a curva se deslocar: pra direita mostrando que os custos caíram, ou a tecnologia melhorou, resultando em capacidade maior de produção; ou pra esquerda (aumento de custos, ou tecnologia limitada), denotando uma capacidade limitada de produção, mesmo que a renda dos consumidores tenha subido, e com isso os preços de venda (inflação).

O exemplo acima serve para ilustrar não só famílias cuja renda subiu em determinado período. Explica também como se comportam as classes sociais com relação às oscilações no preço de determinado produto, ou grupo de produtos. Bastaria atribuirmos a cada classe social uma curva específica, de acordo com a  sua renda. Teríamos a classe C sendo representada pela curva vermelha, a B pela verde, e a classe A por outra curva, um pouco acima. O resto do raciocínio seria idêntico.


Parte 2 - FATORES QUE INFLUENCIAM AS DECISÕES DE CONSUMO E COMO MEDI-LOS

ELASTICIDADE-RENDA DA DEMANDA (OU EFEITO RENDA)

Vimos,  pelos exemplos anteriores, que não só os preços influenciam na decisão de consumo, mas também a renda da pessoa, o seu gosto ou preferência, e até os preços de outros bens. Temos, então, 3 fatores básicos que afetam o nosso consumo:
           1) os preços - como vimos, somos sensíveis aos preços, isto é, reagimos às mudanças nos preços das mercadorias e serviços. Veremos que essa sensibilidade pode ser maior ou menor. Os economistas chamam essa maior, ou menor, sensibilidade de elasticidade.
          2) a renda (salário): Quando cresce a renda é natural que o consumo suba, mesmo que os preços não tenham caído - por isso deslocamos, no último exemplo, a curva de demanda pra esquerda em função do arrocho do governo sobre os nossos salários. Essa relação entre aumento/queda no consumo em função do aumento/queda na renda é chamado de efeito renda. Um exemplo: se considerarmos que a renda das pessoas cresça em 4% em determinado ano, em quanto crescerá, por exemplo, o consumo de um “bem” importante como a energia? O governo mapeou isso e descobriu que se a renda/PIB (já vimos na lição sobre o PIB que renda e PIB se igualam, podendo ser tratadas como a mesma coisa) crescer em 4% o consumo de energia cresce quase 5 vezes mais, ou seja, 20%. Essas variações no consumo de produtos em função de variações na renda é chamado de efeito renda. Na medida em que mostramos essa relação em números (variações no consumo x renda) temos a tal elasticidade-renda da demanda. Ou seja, de quanto é o crescimento no consumo (sensibilidade da demanda) a partir de um aumento na renda das famílias (PIB), por exemplo?

            * sobe mais do que proporcionalmente (bem normal elástico, com elasticidade  maior que 1);
            * sobe menos do que proporcionalmente (bem normal inelástico, com  elasticidade  inferior a 1)
       

No caso da energia vemos que é ela um bem normal bastante elástico com relação à renda (elasticidade acima de 1) pois o seu consumo sobe bem mais do que proporcionalmente (isto porque novos eletrodomésticos são comprados, diversas indústrias tem suas vendas aquecidas - tudo isso afeta o consumo de energia). Resultado: com o crescimento no PIB (renda) brasileiro ou o governo investe em geração de energia ou temos apagões. Isso significa que não podemos crescer muito, senão o país, literalmente, trava - já tratamos desse problema de falta de infraestrutura quando discutimos sobre o PIB. 
             3) influência de outros bens: os economistas classificam os bens também de acordo com a sua importância (superiores, substitutos, complementares e inferiores) para mostrar os efeitos nos consumo deles com as variações nos preços e na renda. Podemos ter,  portanto, várias classificações dos bens (produtos) em economia: 

bens superiores: são aqueles que sofrem alterações no seu consumo quando a renda sobe ou desce.

bens substitutos são aqueles onde um elevação no preço de um faz com que ele seja trocado por outro (carne de boi pela de frango, manteiga por margarina ...). 

bens complementares: o consumo de um complementa o do outro, ou seja, o consumo de carros aquece a venda de combustíveis, pneus, amortecedores, seguros etc etc. 

bens inferiores: é possível a demanda de um produto cair quando a renda sobe? São casos mais raros, mas é possível. Vamos a 2 exemplos: 1) carne de segunda: só compramos carne de segunda porque o salário não dá pra comprar carne de primeira. Na medida em que o salário cresce deixamos de lado a carne de segunda e passamos a adquirir carne de primeira; 2) bebida láctea: um tipo de iogurte feito apenas com o soro do leite. Como o soro é um produto que seria descartado pelas indústrias, elas descobriram uma forma de aproveitá-lo para fazer um iogurte mais barato, adicionando sabores artificiais e vendendo para as classes mais baixas. Na medida em que a renda sobe as pessoas tendem a substituir esse produto por iogurtes de verdade (feitos com leite e polpa de fruta), que são mais caros. Esses produtos (bebida láctea e carne de segunda são chamados de bens inferiores, pois sua elasticidade-renda é negativa (< 0), já que um crescimento na renda diminui o seu consumo.

Pra finalizar, lembremos também que o que compramos nas lojas, supermercados etc, depende também (além do preço, preço dos substitutos etc) dos nossos hábitos e preferências, além da publicidade e propaganda que influenciam esses hábitos e preferências. Ou seja, um produto que é caro pra um pode não ser pro outro. Isto é, diversos outros fatores também afetam o nosso consumo: a demografia (crescimento no número de consumidores), mudanças nos gostos e preferências, o marketing, a expectativa de variação de preços do produto no futuro, nível de educação e idade dos consumidores, a moda, o clima, o sexo, a ocupação, a religião etc.

Do consumo elástico ao inelástico
Ilustremos novamente com o caso da energia. Já vimos que o seu consumo sobe com a renda, o que a torna um bem superior. Mas, e se a renda cair? É normal que o consumo de energia também caia, mostrando que, de fato, a elasticidade é positiva (acima de 0). Porém,  há um ponto a partir do qual não deixamos de gastar energia, água etc, pois mantemos um consumo mínimo de energia mesmo que a renda caia mais. Nesse caso, teríamos uma elasticidade-renda próxima de 0 (zero) - uma queda de 10% na renda, por exemplo, pode fazer o consumo de energia cair apenas 1% ou 2%. Isto é, abaixo desse nível de renda o consumo de energia/água acaba sendo muito pouco sensível, o que torna esse consumo inelástico. Isso acontece porque quando os bens são muito necessários, variações na renda (ou preços) não tendem a afetar muito o nosso consumo (não vivemos sem geladeira, sem ventilador, no mínimo, no verão). Assim, a energia passa a ter um comportamento inelástico frente a variações na renda, já que o achatamento nos salários provoca uma redução no consumo proporcionalmente menor. 

A bem da verdade, o classificação de um bem depende muito do contexto social em que estamos inseridos, como visto na aula anterior. Em um lugar onde o transporte público seja ruim ele é caracterizado enquanto um bem inferior (subiu a renda eu ando menos de ônibus, metrô etc)  pois vou optar por comprar um carro. Em cidades onde ele funciona bem, quando a renda sobe é pouco provável que eu gaste esse dinheiro comprando um carro. Talvez eu apenas utilize mais do transporte público, ou procure assentos neles com preços mais caros.

Resumo da elasticidade-renda da demanda:

Para um bem normal
Unitária =1: o consumo sobe\desce na mesma proporção da variação na renda
Elástica e > 1: o consumo sobe\desce mais do que a variação na renda

Inelástica e < 1: o consumo sobe\desce menos do que a variação na renda

Para um bem inferior
Elasticidade negativa (< 0): o consumo cai com elevações na renda, e vice versa


A ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA

Voltemos agora aos preços, como citado no ponto 1). Todos os produtos tem a mesma variação no consumo em função da elevação nos seus preços? Isto é, se o preço de um produto cair 10% o seu consumo sobe também em 10%? Não necessariamente! Se isso acontece dizemos que esse bem em particular tem elasticidade igual a 1. Se a elasticidade preço for < 1, chamamos o produto de inelástico, pois uma queda nos preços de 10% eleva o consumo em menos de 10%. Se o consumo, pra essa mesma queda de preço, subir mais do que 10% o chamamos de elástico. Ou seja, seguimos o mesmo raciocínio da elasticidade renda da demanda.

Assim, a elasticidade-preço da demanda se comporta da seguinte forma:

Para um bem normal
Unitária =1: o consumo sobe\desce na mesma proporção da variação % no preço
Elástica e > 1: o consumo sobe\desce mais do que a variação % no preço
Inelástica e < 1: o consumo sobe\desce menos do que a variação % no preço

Para um bem inferior
Elasticidade negativa (< 0): o consumo cai com elevações no preço, e vice versa


Mas, por que falamos de  bens com elasticidade > 1, < 1, = 1, ou bens inelásticos? Porque isso não é difícil de ser medido, e os resultados encontrados tem como referência o número 1, representando o 100%. Assim,



Se o preço de um pão de forma for R$2,00 e subir para R$2,20  temos um aumento de 10%. O  produtor do pão, ou o supermercado que o vende, identificou que com essa elevação nos preços em 10% a quantidade vendida caiu de 600 unidades para 550 unidades na semana, o que dá  um percentual de -8,33%. Já  notamos aqui que a elasticidade é menor que 1, pois se fosse igual a 1 a elevação nos preços levaria a uma queda nas vendas de também 10%. Fazendo a conta vemos que a elasticidade desse produto foi de 0,83 (8,33%/10%). Assim, concluímos, a partir da tabela anterior, que esse bem (um bem normal), é elástico, e tem elasticidade  < 1.

O consumo de vários produtos já teve sua elasticidade medida repetidamente e hoje já são bem conhecidas. O arroz, por exemplo, no Brasil, tem uma demanda inelástica (como a energia, água etc que citamos acima). Ou seja, se os preços subirem a quantidade consumida cai pouco, já que, tradicionalmente, ele não pode faltar na mesa do brasileiro. 

obs: notem que a proporção da renda gasta com determinado produto torna a sua demanda mais ou menos elástica. Uma elevação no preço do sal não faria com que eu reduzisse muito o seu consumo porque ele representa pouco do meu gasto mensal Ou seja, o sal tem uma demanda inelástica, isto é, compro mesmo com a elevação nos preços. É diferente com o preço da geladeira. Como uma elevação no seu preço comprometeria muito da minha renda, isso acaba resultando em redução no seu volume de compra. Isto é, o consumo da geladeira é elástico (sensível às variações nos seus preços). Podemos concluir, então, que a demanda de um produto pode ser mais ou menos elástica dependendo da faixa de renda do consumidor.

A IMPORTÂNCIA DA ELASTICIDADE PARA EMPRESAS E GESTORES

Qual a importância de se conhecer a elasticidade (sensibilidade) dos consumidores a determinado produto? Do ponto de vista empresarial é imprescindível que o gestor saiba se uma redução nos preços da sua mercadoria afetará muito as suas vendas, e com isso os seus lucros no final. Até porque são decisões tomadas rotineiramente na empresa, principalmente, para fazer frente aos concorrentes. Analisemos 2 situações:

1) O que aconteceria, então, com o produtor de um bem inelástico? Se o seu produto for inelástico (< 1) significa que se aumentar o preço de sua mercadoria a demanda cai pouco, e vice versa. Logo, pode acontecer de essa elevação nos preços, e na receita, resultar na perda de poucos clientes, aumentando assim os seus lucros - podemos incluir aqui as empresas de energia elétrica, fornecedoras de água, além dos produtores de petróleo, que são bens tão essenciais, isto é, deixamos de consumir outros pra não ficar sem geladeira, sem carro etc. Em compensação, se baixar o preço para atrair mais clientes o efeito é menor que o esperado, diminuindo o faturamento.

2) De modo contrário, se ele vende um bem bastante elástico (> 1), quedas  nos preços elevam as suas vendas porque a quantidade de clientes (vendas) sobe mais do que essa queda nos preços, ou seja, a pequena que na receita por preços menores é mais do que compensada pela grande quantidade de vendas que consegue. De  modo contrário, se elevar os preços a quantidade vendida diminui muito, fazendo cair a sua receita (situação oposta ao caso 1 acima).



Parte 3 - ESTRUTURAS DE MERCADO

Já vimos como os preços se comportam no ambiente macroeconômico (lição 4),  fizemos aqui um estudo mais aprofundado no ambiente micro. Agora podemos analisar como se comportam as empresas, ou como  elas se relacionam com os clientes. Pra isso os economistas dividem, em linhas gerais, os mercados em 2, ou mais, estruturas básicas; mercado concorrencial (concorrência perfeita) e monopólios. Observem que estamos falando aqui, em linhas gerais, dos preços livres (concorrência) e dos administrados (monopólios), que compõem os IPC's, com 70% e 30%, aproximadamente. Vejamos, sucintamente, as características das duas:

Concorrência perfeita

O nome ‘perfeita’ vem do fato de que nesse mercado ninguém tem poder suficiente para influenciar nos preços. Os preços oscilariam unicamente pelas leias da oferta e demanda que vimos acima, isto é, excesso/falta de produtos ou excesso/falta de consumo. Pra que isso ocorra é preciso que as seguintes características  nesse mercado:

- grande quantidade de produtores, ou seja, quem chega no mercado já vê que o preço está dado. Neste caso,  não tem como, individualmente, influenciar nele.;
- grande quantidade de compradores;
- produto homogêneo, ou seja, todo mundo produz a mesma coisa, ou coisas muito parecidas. Portanto, seria indiferente para os clientes comprar de um ou outro produtor. Isso nos impede, na maioria das vezes, de identificar quem é o produtor (banana, alho, batata etc);
- custos de produção parecidos;
- ausência de barreiras à entrada (fácil entrar para produzir) ou barreiras à saída (fácil a saída do mercado, já que os custos envolvidos na produção n são tão grandes). Ou seja, todo mundo conhece o preço, o custo de produção e a tecnologia do processo produtivo. Caso existissem, além dos custos e da tecnologia, as barreiras poderiam ser ainda de outros tipos como o registro de patentes ou a obtenção de licenças governamentais;
- ausência de ‘lucros extraordinários’. Ou seja, como os preços são dados no mercado, e os custos de produção e tecnologia muito parecidos, um produtor não consegue auferir um lucro muito superior ao outro.

A questão é, esse mercado existe na prática ou só no nível teórico dos economistas? Existe, e o exemplo disso é bem conhecido. Anos atrás (meados de 2013) o preço do tomate disparou. Foi um período de muita chuva. E muita chuva implica prejuízo nas lavouras (vimos que o clima é uma das causas do choque de oferta). Com essa baixa oferta os preços tendem a subir. Até aí tudo bem. Por que os preços caíram bastante nos anos seguintes? Aí entram as considerações pontuadas acima. Com esse lucro extra obtido pelos produtores muitos outros, também pequenos, entraram no mercado porque virou um negócio lucrativo (quem não se lembra das charges mostrando o tomate valendo o peso em ouro?!). Isso só foi possível porque não há barreiras à entrada nesse mercado, ou seja, é relativamente fácil converter uma lavoura de alface em tomate. Bom se muitos produtores entram é normal que na safra seguinte tenhamos muita oferta, para o mesmo nível de consumo. E muita oferta resulta em sobra de tomates e queda no preço. Bastou as chuvas voltarem ao normal que a grande safra de tomate veio. Os preços despencaram a ponto de muitos produtores jogarem os seus produtos fora porque a receita obtida com eles não cobria sequer os custos de produção (foi o que aconteceu em janeiro de 2015 em Venda nova do Imigrante, ES).

Os produtos homogêneos, sem muita diferenciação, encontrados nesse setor também são chamados de commodities, isto é, produtos sem muita diferenciação e geralmente vendidos (inclusive exportados e importados) à granel (em grandes quantidades).

Observação: uma derivação da concorrência perfeita, e que fica a meio caminho da estrutura seguinte, é a Concorrência imperfeita. Esse mercado é apenas uma derivação do primeiro. Isto é, tem alguns dos princípios básicos daquele, sendo apenas flexibilizado em alguns pontos, até porque nem tudo que se compra é tomate. As principais características seriam:

- um pouco menos de concorrência, isto porque as empresas tem um pouco mais de poder na hora de influenciar nos preços;
- produtos com diferenciação (Ex: produtos de limpeza, higiene pessoal etc);
- o mercado, dependendo do produto, pode ter maiores ou menores barreiras a entrada;
- pode haver combinação de preços entre os produtores - uma prática ilegal denominada cartel.

Monopólio

Esse tipo de estrutura é tão importante na economia que virou um a fonte de inflação particular na lição 4, inflação de lucro, cuja causa básica são os preços administrados (que já mencionamos no começo deste tópico). Ou seja, os preços destes monopólios (caso só haja um produtor) ou oligopólios (grupo maior de produtores, mas com muito poder no mercado) representam, em média, 30% do que gastamos no fim do mês (energia, água, telefone, plano de saúde, táxi, combustível etc etc. Logo, suas principais características são:

- único ofertante (ou poucos, nesse caso chamamos de Oligopólio);
- grande poder no mercado;
- forte barreira à entrada para os concorrentes. Muito forte para os monopólios (licenças governamentais, patentes registradas, monopólio estatal, ou o grande volume de capital necessário para o investimento são 2 exemplos), um pouco  menos para os oligopólios.

Observação: como na concorrência perfeita, também temos um mercado mais flexível com relação aos monopólios, que chamamos de oligopólios, com as seguintes características:

- pequeno número de empresas (ex: indústria automobilística, siderúrgica, de bebidas, bancos,  etc)
- diferenciação, ou não dos produtos. No primeiro caso temos carros e bebidas como exemplo, no segundo serviços bancários, cimento etc.
- pode ocorrer, o que é uma prática ilegal, a organização de um grande número de empresas, com produtos homogêneos, que se unem para definir o preço de mercado. Nesse caso, chamamos esse oligopólio de cartel. Como exemplo, clássico, temos os postos de combustíveis.

Duas formas de organização das empresas, devem também ser explicadas:

1) Trustes: eles surgem quando empresas concorrentes se fundem, mantendo sua individualidades (mantendo sua autonomia), como objetivo de controlar a maior parte do mercado e eliminar a concorrência. O truste acaba levando à formação de um grande monopólio. Exemplos: Sadia e Perdigão que formaram a Brasil Foods; Brahma, Skol e Antarctica na formação da Ambev. Outro exemplo de truste foi o trabalhado na lição4, e que teve intervenção do Cade, a compra da chocolates Garoto. Leis antitruste podem, inclusive, ajudar o mercado de trabalho (veja aqui o caso do Vale do Silício nos EUA)

2) Holdings: surgem quando empresários montam uma empresa que serve de gerenciamento das demais, geralmente de setores diferentes. Ou seja, é uma empresa criada para administrar as demais, sendo  esse controle efetivado por meio da compra de ações. É uma prática legal, ao contrário dos trustes. Exemplos: i) Grupo Silvio Santos, uma grande holding que controla mais de 40 empresas como:  Lojas do Bau da felicidade, emissora SBT, Telessena (liderança capitalização), SSR Cosméticos (dona da maca Jequiti), Hotel Jequitimar etc. ii) Organizações Globo... iii) Grupo Pão de Açúcar, holding que controla a rede Pão de Açúcar, Extra supermercado, Ponto Frio, Casas Bahia etc.


Não se esqueçam que vimos na lição 4 (fontes de inflação), quando falamos especificamente da inflação de lucro, que ela é tão preocupante que o governo criou mecanismos específicos para o controle dos preços dos monopólios, como as Agências reguladoras. Além disso o controle do surgimento de novos monopólios também está previsto na nova legislação brasileira antitruste (de 2012). Um órgão ligado ao Ministério da Justiça é responsável pela sua aplicação, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, criado em 1962). Ele tem as seguintes funções:

a) analisar preventivamente atos de concentração empresarial, como fusões e incorporações de empresas 
b) punir agentes econômicos que atentem contra a ordem econômica, praticando atos como cartéis ou preços predatórios 
c) estimular a concorrência

Obs: veja aqui um exemplo da atuação do Cade na fusão Perdigão x Sadia.


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5 comentários:

  1. pamela patriota4/14/2010

    Parabéns pelo texto, será possível equacionar isso???

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  2. Carina Campos8/11/2010

    Muito bacana o texto, para os leigos (como eu) o entendimento flui! =)

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  3. Hildegard8/20/2010

    Rola até uma consultoria hem professor ;-D
    Gostei de didática rs rs bom humor é sempre bem vindo e ainda aumenta os resultados rs rs

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  4. Parabéns por compartilhar teu conhecimento, o texto é bom e vai ensinando aos poucos o funcionamento da economia para os nao entendidos do assunto.

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  5. Caroline3/03/2011

    Nossa muito obrigada mesmo! Eu não estava conseguindo entender as minhas aulas de economia, mias com seu texto ficou mais fácil, você usa palavras de fácil entendimento, parabéns por esse dom!

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