¬ Lição de economia nº5: Inflação (Parte 3 - A importância dos índices)

1 - OS ÍNDICES

Já descobrimos que a inflação é medida a partir da comparação de uma lista de preços ao longo dos meses (lição nº3). Vimos também que os preços desta lista podem subir porque houve excesso de consumo, choque de oferta, elevação nos lucros dos monopólios, crescimento nos custos das empresas, ou simplesmente porque já tinham subido no mês anterior, e chamamos essa última de inflação inercial (lição n°4). Quem mede, e onde é medida a inflação? O que significam as siglas e pra que servem? Esse é o assunto desta postagem.

A lista de bens utilizadas para acompanhar a evolução de preços, como visto na lição anterior, é utilizada em vários pontos ao longo da cadeia produtiva. Uma primeira medição, lista, é feita no começo da cadeia, na relação entre atacadistas/indústria e varejistas, portanto, antes dos produtos chegarem até a gente. Esse índice, lista de preços, recebe o nome de IPA (índice de preços no atacado ou índice de preços ao produtor amplo). Quando a lista de preços é medida entre o varejo e as famílias (nossa lista do supermercado mais água, luz etc) temos um outro índice, o IPC (Índice de preços ao consumidor), como mostra a figura. É onde surgem, geralmente, a maior quantidade dos índices, calculados por institutos, governo, sindicatos e faculdades - nomearemos cada um deles a seguir.

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A primeira conclusão que tiramos é que qualquer elevação nos custos dos atacadistas/indústrias serão repassados aos varejistas, ocasionando alta no IPA. Também, por obviedade, os varejistas, ao comprarem mais caro dos atacadistas, repassarão esse aumento aos seus clientes, as famílias, elevando os IPC's.

Mas não podemos restringir as elevações nos IPC's a repasses dos custos dos varejistas. Já identificamos (lição 4) que nossa lista de preços (IPC) pode subir por 5 motivos (ver figura abaixo): (i) pelo consumo, exagerado, das famílias, pois implicaria falta de produtos; (2) pelo choque de oferta, que ocasiona menor quantidade de produtos disponíveis; (3) pelas elevações nos custos das empresas. E estamos falando de elevações, principalmente, nos custos da indústria. Esses custos maiores são repassados ao varejo, elevando o IPA - e lembremos que muitos dos produtos listados no IPA sofrem forte influência do dólar; (4) pelo aumento nos lucros dos monopólios ou cartéis (os preços administrados, como já comentamos).  Concluímos que um aumento na energia, por exemplo, afeta o IPC primeiro porque nós pagamos conta de energia residencial, e num segundo momento porque as empresas também utilizam a energia como insumo básico, e repassarão esse aumento de custos para os produtos que compramos. Pagamos duas vezes; (5) pela inércia, que contamina todos os estágios da produção até chegar no consumidor final.


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Vale lembrar ainda que nossa lista de preços (IPC) é composta não só dos produtos que compramos dos varejistas, mas de outras coisas como água, energia, telefone etc etc. Podemos agora enumerar os diversos índices utilizados no Brasil e identificar a importância de cada um deles:

a) IPC’s: listas de preços monitoradas entre os varejistas e as famílias. Essas listas são divididas em vários subgrupos, como: alimentação, habitação, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, educação, comunicação etc. Veja no fim do post uma lista maior com alguns dos preços monitorados.

           * IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) – lista de preços calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e medida entre o varejo e o consumo das famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos. É a meta oficial de inflação utilizada pelo governo. Pode ser utilizado para pleitear reajustes salariais.

        * IPCA-15 - segue a mesma metodologia do IPCA. Apenas as datas de coleta dos preços são diferentes. O IPCA considera o mês cheio e o IPCA-15 coleta preços entre o dia 15 do mês anterior ao dia 15 do mês de referência. Por isso é utilizado como uma prévia do IPCA.

           * INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) – calculado também pelo IBGE, mas com famílias com renda de 1 a 5 salários, contemplando, portanto, famílias com menor poder aquisitivo. É, por isso, o mais utilizado para reajuste de salários (para os mais curiosos, veja aqui a explicação detalhada de como se calcula um índice).

         * IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP) – preços coletados no município de São Paulo, refletindo o custo de vida para famílias com renda de 1 a 20 salários mínimos. É um índice muito importante por representar o estado com o maior PIB. Assim, se a inflação sobe em São Paulo é bem provável que suba nos índices calculados para todo o país. É utilizado para reajustes salariais em São Paulo.

           * ICV-Dieese (Índice do Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Assim como o IPC-Fipe, é medido apenas na cidade de São Paulo considerando famílias com renda média de R$ 2.800. Também utilizado para reajustes salariais.

        * IPC-3i (Índice de preços ao consumidor da 3ª idade). É um índice mensurado pela FGV para indivíduos acima de 60 anos. Os subgrupos alimentação, transporte, despesas pessoais etc são os mesmos. A diferença está nos pesos dados a alguns deles. Dá pra imaginar, por exemplo, o impacto na renda da 3ª idade quando há elevação nos remédios, planos de saúde etc. Segundo o economista da FGV coordenador do índice: "O IPC-3i revela que os gastos com a educação é pequeno, apesar de haver mais tempo livre para se dedicar aos estudos. Por outro lado, as despesas com alimentação são maiores, sobretudo, com laticínios que ajudam a prevenir a osteoporose. As despesas com transportes públicos, como o uso de ônibus urbano, também é menor, com o passe livre. Entretanto, o consumo de água e luz aumentam, uma vez que os idosos passam mais tempo em suas residências, logo, os reajustes desses serviços trazem um impacto maior no orçamento dos idosos".

Itens das listas que compõem os IPC's
- Alimentação: cereais, farinhas, açúcar e derivados, verduras, frutas, carnes e peixes, aves e ovos, leites e derivados, pães, bebidas, alimentação fora do domicílio ...
- Habitação: aluguel, condomínio, reparos da casa, artigos de limpeza
- Combustível (gasolina e álcool) e energia elétrica
- Artigos de residência: móveis, colchão, rede, tapete, utensílios de copa e cozinha, roupa de cama, mesa e banho, aparelhos eletrônicos (maq de lavar, maq de costura, ar condicionado, geladeira, fogão, tv, dvd, computador ...),  consertos e manutenção de eletrônicos
- Vestuário: masculino, feminino e infantil; calçados e acessórios; jóias e bijuterias ...
- Transportes: ônibus, avião, metrô, trem, transporte escolar ...
- Veículo próprio: veículo novo, veículo usado, moto, seguro, troca de óleo, peças
- Saúde e cuidados pessoais: produtos de higiene pessoal, remédios, preservativos, óculos, lente de contato, médico, dentista, tratamento psicológico e fisioterapêutico, exames de laboratório, planos de saúde ...
Despesas pessoais: cabeleireiro, costureira, empregado doméstico, cartório, despachante, serviço bancário, cinema, instrumento musical, compra e tratamento de animais, bicicleta, brinquedos, teatro, bares, jogos de azar, motel, material esportivo, cigarro, fotografia, creche, ensino fundamental, médio e superior, jornal, revista, livro, caderno, fotocópia, cursos de idioma, auto escola,  ...
- Comunicação: correios, telefone fixo, celular, tv a cabo, aparelho telefônico, internet

b) IPA (Índice de preços ao produtor amplo) – lista medindo os preços entre indústria e varejo - calculada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). É o primeiro índice a captar as variações do dólar, pois a indústria é uma grande importadora. A bem da verdade, o IPA não é uma lista entre ambos (indústria e varejo), mas uma lista dos custos de produção dos atacadistas e industriais, envolvendo produtos, em grande parte, em estado bruto, como soja em grão, minério, e outros produtos in natura. É como se os preços fossem monitorados na porta da fábrica, antes de entrar nela. Nesse sentido, se a indústria compra soja em grão mais cara a lista de preços terá uma alta (IPA). Como ela industrializa essa soja fazendo, por exemplo, óleo de soja, o preço final de cada lata de óleo acaba sendo vendido mais caro para o varejista. Ou seja, a lista de preços não tem o item 'óleo de soja', mas o item 'soja em grão'.

c) INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) - é similar ao CUB (Custo Unitário Básico), sendo o primeiro um índice nacional e o segundo local. Ambos são uma lista que mede a inflação especificamente no setor da construção civil, compreendendo: preço da mão de obra, cimento, areia, brita, vergalhões, cerâmicas, pintura, material elétrico, acabamento etc. A lista mostra a evolução dos custos de construções habitacionais, ou seja, o preço do m2 (CUB/m2) em cada estado.

O CUB/m2 é pesquisado para projetos de casas de baixo, médio e alto padrão, além de imóveis comerciais e galpões industriais. É divulgado pra cada Estado por cada Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil). Há uma lei federal de 16 de dezembro de 1964 que obriga os sindicatos estaduais da indústria da construção civil a divulgarem mensalmente, até o dia 5 de cada mês, os custos unitários de construção a serem adotados nas respectivas regiões. Cabe lembrar que no cálculo do CUB não entram: fundações, submuramentos, elevador(es); equipamentos e instalações (fogões, aquecedores, ar-condicionado, calefação, ventilação etc); playground (quando não classificado como área construída); urbanização, recreação (piscinas, campos de esporte), ajardinamento, instalação e regulamentação do condomínio; impostos, taxas e emolumentos cartoriais, projetos: projetos arquitetônicos, projeto estrutural, projeto de instalação,  remuneração do construtor. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) compila estes dados e faz comparações nacionais e regionais. No Espírito Santo, por exemplo, o m2 de uma casa de padrão normal (R-1) custaria, em média, em maio de 2009, R$896. No Paraná o mesmo m2  sairia a R$965.

d) IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) – Quando o imóvel é financiado na planta nós geralmente pagamos, durante o período de construção, o CUB mais um percentual de juros. Isso garante ao construtor que caso os preços da construção subam ele consiga continuar a obra sem levar prejuízo. Por isso nos cobram essa variação, acréscimo, no custo da construção (CUB). Assim que as chaves são entregues, o indexador das prestações passa a ser o IGP-M, que é o índice de referência para os contratos no mercado. Ele é uma média, ponderada, calculada pela FGV, dos outros índices do mercado, IPA, IPC (no Rio e S.P.) e INCC. É um dos índices mais importantes na economia, pois serve de referência para reajuste de contratos na economia, entre empresas, empresas e pessoas físicas, e empresas e o governo, incluindo telefonia, energia elétrica, contratos de aluguel etc.
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O IGP-M mede a variação dos preços entre o dia 20 de um mês e o dia 21 do mês seguinte. Quando o IGP mede a variação entre os dias 1º e 30º é chamado de IGP-DI. Se a coleta for feita entre os dias 10 de um mês e 11 do mês seguinte é denominado IGP-10. São, portanto, todos IGP’s, sendo a diferença apenas no período em que os preços são coletados (ver tabela abaixo).

Períodos de Coleta de Preços
Mês AnteriorMês de Referência
112101102030
IGP - 10
IGP - M
IGP - DI
  Fonte: FGV

Como o IGP-M não é uma lista de preços, mas uma média ponderada de 3 outras listas, temos 3 listas aferidas entre os dias 21 e 20, o IPA-M, IPC-M e INCC-M. Logo, IGP-M =  60% do IPA-M+ 30% do IPC-M + 10% do INCC-M. O IGP-10 é, da mesma forma, composto pelo IPA-10, IPC-10 e INCC-10, etc.

O impacto do dólar no IGP-M

O importante no índice é a sua metodologia. Por ter forte peso do IPA sofre muita influência do dólar. Vemos  na tabela abaixo, especificamente no ano de 2002, que na época da posse do Lula, e o dólar perto de R$4,00, o IGP-M foi de 25%.



2 - OBSERVAÇÕES IMPORTANTES


  • 1º Inflação 'faz bem'
Isso mesmo, inflação é bom! Uma economia sem inflação pode estar em recessão. Obviamente que falamos em inflação moderada. Em média, para a maioria dos países, isso fica entre 1% e 5% ao ano. Abaixo, ou acima, disso a luz vermelha é acesa. Portanto, enquanto estivermos entre esses patamares é sinal de que a economia está aquecida, principalmente via consumo das famílias. E é normal que haja um pouco de escassez de produtos, fruto desse consumo aquecido. Os preços, então, sobem um pouco para regular os excessos. Isto é, a inflação (geralmente de consumo) mostra que as famílias estão empregadas e comprando, felizes; os empresários vendendo bem, e também felizes; o governo arrecadando mais e tanto mais feliz. Basta apenas controlar os excessos, no consumo, e tudo está bem.

Já um índice abaixo de 2% indica algo de errado, principalmente se entrar no negativo, deflação,  por longos períodos. Se isso for consequência do baixo consumo, e não das melhoras na tecnologia e produtividade, denota uma economia em crise. Neste caso, os empresários, no desespero, reduzem cada vez mais seus preços na tentativa de conquistar clientes, reduzindo também suas margens de lucro. Já os clientes, por algum motivo, não se sentem estimulados a consumir, o que complica ainda mais a situação dos empresários, que no momento seguinte abaixam mais os preços, demitem e jogam a economia em uma espiral recessiva. Não é a toa que todos os países tem metas de inflação, tácitas ou explícitas, como no caso do Brasil. A meta para o IPC-A, índice oficial, é de 4,5% ao ano, com tolerância de 2 pontos percentuais (2p.p.), para cima ou para baixo. Isso quer dizer que o governo aceita um IPC-A entre 2,5% e 6,5%. E vejam que abaixo de 2,5% ao ano, por mais que possa parecer bom para nós consumidores, já é algo considerado grave e o governo deve intervir.

Pensem na inflação como a temperatura do corpo humano. Em torno de 37° o corpo está aquecido e funcionando bem. Com 38° já inspira alguns cuidados. Aos 40° além dos antitérmicos a doença, fonte da elevação na temperatura, precisa ser diagnosticada, do contrário o corpo morre. Da mesma forma, uma queda na temperatura, e não estamos falando em 0°, mas algo em torno dos 34º, também diminui a atividade do corpo até que ele morra. A inflação funciona da mesma forma. Se passar de 4,5% ao ano, pros padrões atuais, é sinal que o corpo está aquecendo além do necessário. Toleramos uma febre na economia de até 6,5% ao ano. Ela está superaquecida. No caso contrário, assim como no corpo, não podemos deixar a temperatura esfriar demais, do contrário a máquina para de funcionar. Neste caso, em torno de 2,5% o governo toma medidas para aquecer a economia e restaurar a temperatura normal de funcionamento. Portanto, não torça por inflação zero, é sinal de que a economia está "morta", uma vez que as pessoas não estão comprando a mais do que compravam no mês anterior. E se elas não compram a mais as empresas não vendem a mais, comprometendo o emprego dos jovens que estão entrando no mercado de trabalho.

Ou seja, torçam por inflação, moderada.

  • 2º A seriedade no cálculo dos índices
A seriedade na divulgação e cálculo dos índices passa por dois aspectos:
1) Não há questionamentos no Brasil quanto à veracidade no cálculo dos diversos índices de inflação. Se observarem no site da FGV verão alguns de seus clientes: Banco BBM, BM&F, Andima, Construtora OAS, DNIT, Petrobras, Eletrobras, etc.

Ou seja, os índices não são calculados para a população, até porque as pesquisas são muito custosas. Alguém paga por elas, e só em seguida são tornadas públicas. Portanto, se a FGV tenta manipular algum dado as decisões das empresas que compram os índices podem ser equivocadas ocasionando prejuízos. Obviamente, esse não é o interesse dos institutos de pesquisa. Por isso, o rigor metodológico (e estatístico) no cálculo; do contrário, perdem clientes.
Há suspeitas, bastante verossímeis, que países como Argentina e China manipulem os índices oficiais. Entretanto, isso não acontece no Brasil com quem calcula o índice oficial (IBGE).

2) Meu padrão de consumo é muito diferente dos demais. Minha lista no supermercado tem peculiaridades, assim como a do meu vizinho. E aí reside o "problema". A lista de preços medida pelos institutos engloba uma infinidade de itens, de qualidades diversas, e pesos diferentes, tentando medir o consumo médio da população. O problema é que eu posso comer mais carne do que o vizinho, ou usar mais gasolina do que ele - e imaginem se o vizinho for um taxista e eu sequer tenha carro. Neste caso, se o preço da gasolina (carne etc) subir ele sentirá mais os efeitos da inflação, o que não quer dizer que o índice divulgado na TV esteja errado, ou foi manipulado. Expressa apenas uma média do comportamento de uma região (IPC-Fipe), ou das principais capitais do país (IPC-A). Se eu quiser saber de quanto foi a inflação pra mim, especificamente, teria que monitorar minha lista de gastos  mensais, como aquela que fizemos na lição nº3.

Portanto, não se sinta enganado, você apenas não está exatamente na média calculada pelo índice; aliás, ninguém está. Eles servem para monitorar o avanço ou não da inflação em cima de uma cesta de bens e serviços, que mostra o consumo médio de uma população.

  • 3º Aceleração, desaceleração e deflação
Muito cuidado com essas 3 expressões. É comum, na mídia, jornalistas se equivocarem com estes conceitos, o que acaba nos confundindo. Vamos a um exemplo:


janeirofevereiromarçoabrilmaio


evolução da lista de preços

R$ 100R$ 102R$ 110R$ 112R$ 105
inflação (em %)-+2,0%+7,8%+1,8%-6,3%
classificaçãosem inflaçãoinflaçãoaceleraçãodesaceleração

deflação



Imaginemos que os preços comecem a serem medidos em janeiro. Neste mês não temos inflação, pois precisaremos coletar os preços em fevereiro para saber se subiram ou não. O fizemos, e a lista, na média, subiu 2%. A inflação de janeiro pra fevereiro foi de 2% - e não podemos concluir mais nada, já que a inflação de janeiro não foi 0%. Ela simplesmente não existe, pois não houve medição.No mês de março, nova medição, e identificamos uma alta de 7,8% em cima dos preços de fevereiro (R$102). Observem que neste caso os preços subiram mais do que haviam subido no mês anterior (de 2% para 7,8%). Dizemos que houve uma aceleração na inflação, ou nos preços.

Em abril fizemos nova coleta e percebemos que, comparando a março, os preços continuaram subindo (+1,8%), porém menos que na parcial anterior (+7,8%). Neste caso, continuamos dizendo que houve inflação, porém ela veio menor (percentual inferior) que a do mês anterior. É muito comum alguns jornalistas verem essa informação, percentual menor, e nos passarem como queda na inflação, ou queda nos preços, o que é um erro. Notem que os preços não caíram, continuam subindo (de R$110 para R$102). Apenas subiram menos que na referencia anterior (de R$102 para R$110). Essa informação equivocada nos confunde, pois se falam que a inflação caiu e formos ao supermercado veremos que os preços estão subindo. A conclusão lógica que tiramos é que os índices estão sendo manipulados, que estamos sendo enganados, afinal a TV fala uma coisa e no dia-a-dia vemos outra. Mas acreditem, jornalistas também erram. Como inflação é elevação nos preços, podemos até dizer que entre março e abril a inflação caiu, pois a elevação nos preços caiu (de +7,8% para +1,8%). No entanto, essa expressão "inflação caiu" pode dar a entender que os preços caíram, ou seja, deflação, e confundir quem não domina bem o assunto. É apenas uma questão semântica, porém acho mais prudente evitá-la e tratar essa variação para menos apenas como 'desaceleração da inflação'.

Só no último caso, quando os preços efetivamente diminuem com relação ao mês anterior, é que temos deflação, queda nos preços (de R$112 para R$105). Por isso o sinal negativo (-6,3%). Se em junho os preços fossem coletados e novamente a lista custasse R$105 a inflação no período seria de 0%. Não nos esqueçamos de que o mesmo raciocínio para aceleração ou desaceleração da inflação serve para aceleração ou desaceleração da deflação. Todavia, raramente ouviremos esses termos porque deflação não é algo muito comum no cotidiano.

Explicando de outra forma, imaginemos um carro parado na estrada. Na medida em que o piloto acelera o carro avança. Esse avanço se dá ora mais rápido ora mais devagar, mas sempre avanço, dependendo da intensidade com que o piloto pise no acelerador. Assim, o carro pode chegar no destino correndo a 100km/h, forte aceleração, ou retirando o pé do acelerador (desaceleração),  andando a 20km/h. O raciocínio com a inflação é o mesmo, ela pode subir de forma acelerada, pisando forte no acelerador (de 20km/h para 100km/h), ou de forma desacelerada (saindo de 100km/h para 40km/h). O piloto não engatou a marcha a ré, apenas pisou de forma mais suave no acelerador. Ou seja, o carro continua andando pra frente, mais rápido ou mais devagar. Se o piloto parar e engatar a marcha a ré teríamos deflação, a velocidade ficaria "negativa", pois neste caso estaria andando pra trás.

  •  4º As metodologias dos índices e suas ponderações
Essa lista de preços média que falamos ao longo das aulas sobre inflação não é escolhida aleatoriamente, mas a partir de uma amostragem do consumo de produtos e serviços de diversas famílias. Cada índice tem, portanto, sua metodologia bem clara, e disponível em seu site respectivo.

Assim, a metodologia do IPC-A mostra uma lista de preços monitorada nas 12 regiões metropolitanas mais importantes: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, Brasília e município de Goiânia. São atribuídos pesos específicos para cada região: São Paulo com peso de 33%, Rio de Janeiro 13%, BH 11%, Porto Alegre 9% etc.

Essa lista de preços que compõem o IPC-A também é subdividida em grupos, cada um com seu peso (ponderação). É como se o comportamento médio da população fosse como vemos abaixo:


A ponderação das despesas das pessoas para se verificar a variação dos custos  foi definida do seguinte modo
Tipo de GastoPeso (% do Gasto)
Alimentação25,21%
Transportes e comunicação18,77%
Despesas pessoais15,68%
Vestuário12,49%
Habitação10,91%
Saúde e cuidados pessoais8,85%
Artigos de residência8,09%
Total100%


Ou seja, é como se as pessoas das regiões citadas acima, ou seja, do Brasil, tivessem um consumo médio de alimentos equivalente a 25% da sua renda, 12% gastos com vestuário, e assim por diante. Esses percentuais, ponderações, podem ser alterados, na medida em que o padrão de consumo da sociedade se altera. No entanto, esses percentuais tendem a se alterar junto com as mudanças no perfil de consumo, em função da ascensão social (veja aqui)

No caso do IPA a lista é composta de 462 itens distribuídos nos seguintes atividades: agropecuária (24,7%), indústria extrativa mineral (3,29%), indústria da transformação (71,99%). Em seguida, distribuem-se as ponderações destas atividades segundo classes e produtos, de acordo com os respectivos valores de produção. Assim, o grupo produtos agropecuários representa 24,7% do total do índice; por exemplo: abacaxi (0,129%), tomate (0,289%), feijão (0,562%) etc. Esse mesmo raciocínio é feito dentro dos IPC's, com pesos diferentes. 

O INCC também carrega uma série de ponderações, sendo uma delas com relação ao peso de cada capital na composição da lista de preços (S.P com 43%; BH com 11; Brasília com 10; P.Alegre com 11 etc). 


  • Dica
Quando for, e se puder, negociar um índice para reajustar seu aluguel, comissão de formatura etc, opte pelo IPC-A (ou outro IPC). Ele tende a subir menos porque tem um controle mais incisivo do  governo. O IGP-M, nos momentos de crise e alta no dólar, como é muito carregado de IPA, tende a subir de forma agressiva, puxando o reajuste aluguéis e demais contratos, como vemos na tabela acima - por exemplo,  enquanto o IGP-M bateu em 25,31% em 2002, o IPC-A foi de "apenas" 12,53% no mesmo ano.

Já tive o desprazer de negociar o aluguel de um imóvel com uma corretora cujo contrato continha dois índices para o reajuste. Não sei até que ponto isso é ilegal; imoral, com certeza. Utilizavam o IPC-A e o IGP-M, com a seguinte observação: "Utilizaremos o IGP-M para o reajuste do aluguel. Caso este fique negativo valerá o IPC-A". Ou seja, o IGP-M é o índice oficial para contratos. Porém, após a posse do Lula (2002) o dólar caia insistentemente, e isso o puxou pra baixo o IPA e, por consequência, o IGP-M, que ficou negativo ao longo de vários meses, apesar de positivo no fechamento anual (1,21% em 2005 e 3,83% em 2006, por exemplo). Dessa forma, dependendo do mês de negociação (data base), a inflação nos 12 meses acumulados até lá poderia ficar negativa, o que levaria a uma queda no valor do aluguel. Mas, para não terem prejuízo, os locadores, e as corretoras de imóveis, colocaram o IPC-A como um segundo índice na cláusula do contrato, já que este sempre tem um pouco de inflação.


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