¬ Lição de economia nº20: Política cambial (Parte 5 – Regimes cambiais: câmbio fixo e flutuante)

De posse da ferramenta chamada reserva cambial, a forma como o governo gerencia o câmbio dá origem a dois regimes cambiais básicos:


  • Câmbio fixo

A paridade da moeda é fixada pelo governo e gerenciada todo dia, por várias vezes, para evitar que saia do preço por ele estabelecido. Esse valor fixo não precisa ser de US$1/R$1 como foi no Brasil e na Argentina. Isso vai depender de cada moeda e das pretensões do governo.


 gráfico cambio fixo


O câmbio fixo tem um problema já de cara que é o fato de todos especularem com o seu encerramento, e a provável desvalorização. Ataques especulativos contra a moeda são constantes, bem como as compras em grandes quantidades, aguardando o que é inevitável, o seu abandono por parte do governo. Por isso a manutenção de um câmbio desse tipo demanda um grande volume de reservas, já que as compras diárias de dólares superam as vendas, precisando o governo interferir e abastecer o mercado de câmbio. Assim que as reservas se exaurem o governo decreta o fim do câmbio fixo e torce para que a moeda local não desvalorize muito. 

É, portanto, um regime cambial perigoso, e nocivo, pois pode trazer efeitos devastadores para a economia e reservas cambiais. Foi assim com o México em 1994, o Brasil em 1999, a Argentina em 2001 etc etc etc.

Uma alternativa menos traumática é o regime de bandas cambiais. Nele o valor de negociação do dólar não é único, como no câmbio fixo, mas oscila dentro de um intervalo geralmente estreito. No caso brasileiro isso aconteceu somente após o fim do Plano real, e por alguns meses. As bandas eram móveis, ou seja, por um período o governo permitia oscilações entre R$1,00 e R$1,10. Depois ampliava esse limite para R$1,0 a R$1,20 ou R$1,10 a R$1,20, como vemos na figura abaixo.  Não deixa de ser uma desvalorização gradativa do câmbio, mas com controle estreito do governo.


banda cambial


O mecanismo utilizado para manter a cotação dentro destes intervalos é o mesmo, compra e venda de dólares no mercado de câmbio, que não precisam ser diárias, já que há uma certa liberdade para oscilação.

  • Câmbio flutuante

Aqui não há um preço específico para o dólar. O governo monitora as valorizações e desvalorizações excessivas a fim de evitar os efeitos nocivos sobre inflação e PIB. Assim, quando faltam dólares e o câmbio desvaloriza excessivamente surge a inflação (elevações no IPA e em seguida no IPC-A). Para evitar tais excessos ele pode valer-se das reservas cambiais para abastecer o mercado de câmbio e forçar a baixa do dólar. De modo inverso, nas valorizações cambiais, com a grande sobra de dólares, os exportadores, principalmente os pequenos, podem sofrem com queda na receita e margem de lucro. Isso prejudica o PIB (20% vem das exportações), forçando o governo a retirar, comprar, dólares do mercado e guardá-los nas reservas cambiais.

Com a flutuação não é limpa, ou seja, o governo faz intervenções quando julga oportuno, esse câmbio também pode ser chamado de administrado, ou flutuação suja.



flutuante

10 comentários:

  1. Vanessa Torres10/17/2009

    As lições estão ótimas, super didáticas e de fácil entendimento. Adorei!

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  2. Felipe5/08/2010

    Uma dúvida sobre o contexto geral da matéria é:

    quando o governo retem esses valores, seja das reservas cambiais ou até mesmo a grana obtida pela venda de titulos publicos, acredito que ele não mantém esse dinheiro parado pois senão "estragaria", então ele deve investir todo esse dinheiro que ele (o governo) retém, estou certo? Caso sim, esse lucro obtido vindo do investimento é somado ao PIB também né?

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  3. kantega5/10/2010

    Felipe, o dinheiro do investimento público anual entra no PIB, independente de onde venha. Mas a dívida interna na verdade 'não existe', ou melhor, o dinheiro referente a ela não existe, não está guardado em lugar algum (veja a lição sobre a dívida interna).

    Já a dívida externa n tem relação direta com o PIB pois fica guardada em dólares, e em boa parte, aplicada lá fora. Logo, os lucros dos investimentos com as reservas elevam as reservas apenas. O dinheiro obtido com títulos públicos não gera lucro, ou receita, mas uma despesa, pois tem q pagar juros por esse dinheiro que pegou emprestado mais á frente.

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  4. Felipe5/20/2010

    Agora surgiu uma outra dúvida, quando o governo vende títulos ele o faz com o intuito de controlar inflação de consumo por exemplo, eu imaginava que o governo retirava o dinheiro dos bancos para diminuir o crédito para o povo, se esse dinheiro "não existe" ou não está guardado em lugar algum, de que forma o governo retém esse dinheiro dos bancos?

    Prometo que vou olhar depois com mais tempo o artigo da dívida externa.

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  5. kantega5/20/2010

    A dívida passada de 1,4 trillhão é que não existe na forma de moeda pois cresceu em função basicamente dos juros. Mas o governo, constantemente, vende novos títulos pra tirar o dinheiro que existe hoje no mercado e controlar o consumo. Esse dinheiro sim fica guardado com o governo.

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  6. Felipe5/20/2010

    Agora sim, consegui compreender, então?! Esse dinheiro adquirido constantemente para tirar o dinheiro do mercado e controlar o consumo imagino que não fique parado, por isso perguntei se o governo o utilizava em instimentos, claro que os lucros obtidos desse investimento não seria capaz de cobrir os juros altíssimos da dívida interna.

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  7. kantega5/20/2010

    É por aí. Até que o dinheiro fica parado sim, pq se voltar pra economia vira consumo. E como é uma dívida ele tem que ter guardado para devolver depois. A questão é que esse dinheiro é muito pouco comparado com o total da dívida que já existe.

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  8. Felipe5/20/2010

    Perfeito!!! essa é a jogada que eu não tava entendendo: "se o governo investir esse dinheiro é a mesma coisa que o dinheiro voltar para o mercado". no entanto eu imaginei que seria investimentos fora do país por exemplo.

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  9. WESLEY RIBEIRO5/27/2012

    wesley
    a movimentação monetaria para compra e venda de dolares podem ser negociadas, diretamente com bancos estrageiros pelo governo, ou existem outras formaS?

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  10. jessica farias8/31/2013

    ótima explicação, perfeito

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