¬ Lição de economia nº10: A Política fiscal (Parte 3 – Corrupção ou dívida, onde está o problema?)

E a tal da corrupção? Seria ela mesmo a causa de todos os nossos problemas econômicos e sociais? Particularmente, acho que não é difícil rechaçar essa tese, com ou sem dados. Há uma Organização não-governamental (ONG) denominada Transparência Internacional (TI) que mede um tipo de Índice de Corrupção em vários países. A nota vai de zero (para os países mais corruptos) a 10 (para os menos corruptos). Trata-se de um indicador compilado a partir de outros indicadores, todos estes referentes a opiniões de pessoas ligadas a corporações transnacionais (ou que para elas prestam serviços) a respeito do nível de corrupção que elas imaginam vigorar em um país.  O Brasil não tira mais de 4 pontos nesse boletim, ou seja, um país altamente corrupto. Em 2008, por exemplo, de 180 países, ficamos na 80ª posição (veja aqui o ranking).

Apesar de todas as críticas ao índice (ver detalhes aqui), meu interesse é o quanto isso representa em valores numéricos, ou seja, em reais, pois servirá para tirarmos algumas conclusões ao compararmos com os dados da lição n°9.

Tiro já algumas a partir de um texto elaborado por 3 professores de economia do sul do país (ver texto aqui). Criaram um modelo matemático pra tentar medir a corrupção, e concluíram que ela equivale a 11% do PIB. Ou seja, no Brasil, em 1998 envolveria um valor de, aproximadamente, R$ 50 bilhões. Esse estudo matemático é interessante pois difere muito, segundo os próprios autores, do obtido por um outro que estimava um percentual equivalente a 68% do PIB (aproximadamente R$ 1 trilhão), também para o ano de 1998 - a título de comparação, a Fiesp (Federação das indústrias do estado de São Paulo) divulgou um estudo em 2010 onde a previsão de perdas com a corrupção é da ordem de R$40 bilhões anuais, o que representa 1,38% do PIB (veja aqui a reportagem na revista Época).

Façamos uma conta simples, a partir da lição nº9. Temos, em média, R$9 bilhões por mês de juros da dívida interna. No fim do ano chegamos a aproximadamente R$110 bilhões de juros a serem pagos. Olhando pra estes dois valores (50 bi de corrupção e 110 bi de juros) o que acham que efetivamente inibe o crescimento (não se esqueçam que o primeiro valor é resultado de um modelo matemático, portanto uma estimativa, ao passo que o segundo é real)? Imaginem a China, uma ditadura meio capitalista, meio socialista, onde tudo é controlado pelo governo, cuja máquina burocrática é infinitamente maior que a brasileira. Não consigo mensurar os trilhões gastos com corrupção. No entanto, os “miseráveis” crescem a mais de 7% ao ano, por baixo, há décadas. O que concluo aqui com estes números, ou com o exemplo da China, é que a corrupção atrapalha, agride, incomoda, mas não impede um país de crescer. É algo natural em toda e qualquer Nação, diferenciando-as apenas quanto à sua gradação. Não há um país que não seja corrupto. Sendo assim ela pode apenas inibir um pouco o crescimento, mas não ser justificativa básica para a ausência dele. E, como vimos com os dados, o problema aqui, e em outros países, é o mau gerenciamento da máquina pública e da dívida interna. Digamos que tivemos, historicamente, gerentes, dessa enorme empresa chamada Brasil, muito ruins. Não tocaram bem a empresa e ela se vê endividada e crescendo muito lentamente. Ao longo do processo muitos desvios ocorreram, funcionários usurparam dinheiro, clientes deram calotes, cheques voltaram  etc, mas a culpa é do chefe, pois esse dinheiro não impediria a empresa de crescer. Foram decisões estratégicas equivocadas.

Para corroborar um pouco meu raciocínio, aproprio-me de mais algumas frases do trabalho dos 3 professores:

“Em termos gerais, percebe-se que a presença de corrupção no modelo não inibe o crescimento econômico. Esse resultado não deixa de ser surpreendente pois esperava-se que a existência de corrupção, ao reduzir a remuneração do capital, acabasse resultando em uma dificuldade para o crescimento do PIB. (...) Analisando a evolução do PIB (...) percebe-se que o efeito da presença da corrupção no sistema econômico reduz levemente a capacidade de crescimento do país. Comparando os resultados para o ano de 1998, a simulação do sistema econômico com corrupção resultou em um crescimento do PIB 1,1% menor que quando comparado com o resultado obtido sem corrupção”.

E concluem isso por considerar que uma boa parte do dinheiro da corrupção acaba voltando pra economia, de outra forma.

Com relação à corrupção cabe ainda uma outra, não menos importante, reflexão. Essa eu deixo pro historiador, e professor da Unicamp, Leandro Karnal, no vídeo abaixo:

Corrupção

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